sábado, 22 de junho de 2013

Conto 0019 Policia e bandido 2.0 lado B


 
Iaê trutas! Meu nome na quebrada é Johnny, moro em uma comunidade do Rio de Janeiro, eu fiquei aleijado depois de um alemão acabar com minha brincadeira, eu nasci na comunidade, morava em um barraco com meus pais que são alcoólatras e me batiam todo dia e com meu tio que me estuprava desde os meus dez anos de idade, aos treze decidi sair desse inferno e morar na rua, que eu acreditava ser mais seguro que minha casa, pelo menos ninguém ia me bater ou me estuprar.

Comecei praticando delitos leves, roubava as correntes de ouro das madames em Copacabana, relógios do bacanas, aos poucos fui me fazendo no mundo do crime, aos dezesseis anos já era ladrão profissional e maquinado, com minha pistola automática, aquelas lembranças do meu passado viviam em minha mente, decidi então voltar pra comunidade e acertar as contas com meus pais e meu tio tarado.

Chegando no morro fui direto ao meu barraco, quando saquei a arma pra derrubar a porta, um cara gritou:

<Estranho> Aí maluco tu pensa que vai fazer o quê em nossa comunidade?
<Eu> Vim acertar as contas com meus pais que me batiam quando eu era criança e meu tio que me estuprava! (Tive de responder a ele, pois os quatro do bando estavam armados com fuzis, eu não teria como me defender e seria morto por eles, por isso joguei a real)
<Estranho> Aí pessoal o que eu faço com esse comédia? Chega no nosso setor intimando de chacina, não posso negar que ele é da cor e tem estilo, matamos ele ou damos a escolha?

Os outros três disseram pra dar a tal escolha, que eu realmente estava com medo do que seria.
<Eu> Cara não me matem eu trabalho pra vocês!
<Estranho> Qual seu nome comédia?
<Eu> Meu nome é Johnny!
<Estranho> Olhai o cara tem nome de gringo! Ai Johnny meu nome é Carlos, sou eu quem manda na boca desse setor, sou o gerente, a escolha que lhe damos é ser nosso soldado, nós pagamos cinqüenta real por dia, ou isso ou a morte, o que você escolhe?

<Eu> Claro que aceito! O que eu tenho que fazer?
<Carlos> Você irá ficar aqui com esse fuzil, se o comédia dos alemão entrar aqui, tu senta fogo neles ta ligado?
<Eu> Claro Carlos de boa, já saquei qual é o esquema, mas me diz uma coisa e meus pais e meus tios? Eu quero passar fogo neles!
<Carlos> Aí truta, depois matamos eles um por um pra não levantar suspeita, fazemos microondas neles e nunca acharão os corpos belê?

<Eu> Na hora mano, botei fé em vocês! Já estou me sentindo em casa!
<Carlos> Aí tu usa algum bagulho?
<Eu> Po eu curto uma erva!
<Carlos> Aí zezão rola uma frente pro mano trabalhar de boa ai!
<Zezão> Na hora chefe, pegai truta!

Nossa eu adorei aquela turma, nós éramos os donos do morro, com o arrego do tráfico os alemão subiam o morro, mas era pra pegar nossa grana e vender fuzil, eles nunca bateram de frente com a gente, nós tínhamos uma vida de rei, casa com piscina, as vagaba rolavam direto na fita, muito trampo, mas na hora da folga era aquela curtição!

O inferno começou naquele fatídico dia, quando a tropa de elite dos alemão subiram o morro, eu nunca tinha visto de perto um caveirão e no primeiro dia que ele subiu em nossa comunidade deu em merda, nessa época eu já não era soldado, era o gerente da boca, os soldados foram quase todos mortos, eu então sai pelos becos tentando fugir dos alemão, já tinha corrido um monte pra longe dos tiros.

Certo momento eu escutei aquele estalo em minhas costas, foi um tiro, eu caí no chão sem conseguir mexer minhas pernas, então do meio da escuridão saiu aquele homem de preto com a cara pintada e disse:

<Alemão> Aí seu verme, eu atirei bem na sua coluna, não vamos te prender, pelo contrário, vou chamar a ambulância e dizer que tu era um morador atingido, porque farei isso? Porque quero acompanhar de perto sua vida, que agora será em uma cadeira de rodas, pro resto de sua vida, seu traficante de merda!

Eu fiquei ali de cara pro chão, sem conseguir me mexer, durante alguns minutos o filme da minha vida passou pelos meus olhos, eu me vi criança jogando bola nos becos da comunidade, o tempo que passei na rua, todas aquelas farras que fizemos enquanto eu crescia no tráfico, de soldado até me tornar o gerente da boca, depois disso ouvi a ambulância chegando e eu sendo amarrado na maca e colocado dentro, então desmaiei.

Quando acordei estava cheio de tubos enfiados em minha boca e nariz, tentei me levantar, mas estranhamente não consegui, parece que todo o meu corpo estava anestesiado e eu não sabia por que, tentei levantar o pescoço e consegui, olhei pro meu corpo e praquela sala branca, me perguntando se eu estava vivo ou morto, já não sabia mais se aquilo era real, depois de certo tempo uma enfermeira entrou me viu acordado e saiu do quarto.

Pouco tempo depois entraram de novo a enfermeira acompanhada de outros enfermeiros e médicos, eles começaram a tirar os tubos da minha boca e nariz, eu comecei a sufocar eu tentava respirar e não conseguia, era como se meu pulmão não estivesse funcionando, eles disseram pra eu ter calma e começar a respirar devagar, colocando força pra respirar mesmo, eu não entendia porque não conseguia respirar.

Foi quando o médico me disse:
<Médico> No começo será difícil respirar mesmo, afinal você passou um mês em coma, teve complicações na cirurgia, pegou infecção nos ossos da coluna e na medula espinhal, a infecção também afetou bastante seus pulmões, que por estarem com os tubos de respiração, perderam boa parte da capacidade de respirar, sua condição atual agora é de tetraplegia, ou seja, você não meche nada do pescoço pra baixo, você tem alguma duvida?

De repente a voz do médico ficou cada vez mais longe e minha visão foi perdendo o foco, pouco tempo depois, apaguei...

Continua...

sábado, 11 de maio de 2013

Conto 0018 Policia e Bandido



Meu nome é Manoel sou policial militar no Rio de Janeiro, certo dia estávamos entrando na comunidade com um dos vários helicópteros de segurança do Estado, eu estava derrubando os meliantes na mira de uma .50 Sniper afixada na aeronave, choviam projéteis de AK-47 eu já havia derrubado uma dezena deles, sou campeão de tiro pan-americano, mirei derrubei, a emoção de voar e atirar é uma coisa que não é pra todos, além da coordenação motora, temos as rajadas de ventos e manobras evasivas, tentando fugir da chuva de balas.

Determinado dia a aeronave deu um voo rasante, ao passar há poucos metros do chão, fui alvejado por um tiro de AK-47 e desmaiei. Acordei no hospital, com tubos enfiados em mim, na boca, nariz e nas partes intimas, pensei que havia sonhado, mas, o que acontecera fora verdade.

Primeiro eu tentei remover os cabos, não consegui, depois tentei mexer as pernas, nessa hora um arrepio me veio à coluna, só que eu senti ele até a metade da coluna e pensei que o pior teria acontecido, eu tinha ficado paraplégico.

Muitos foram os policiais que se feriram assim durante a vida e bandidos também, muitos deles eu mesmo fiz ficarem na cadeira de rodas, assinei assim meu carma, ficaria na cadeira de rodas, pagando pela minha dívida, por ter feito sofrer centenas de pessoas durante os 20 anos de guerra contra o tráfico.

Esperei algum tempo aparecer alguém, até que uma auxiliar de enfermagem entrou na UTI, a me ver acordado voltou e fechou a porta novamente, passou algum tempo e entraram a equipe de médicos e enfermeiros, começaram a tirar os tubos do meu nariz e boca, assim que pude comecei a falar.

<Eu> Eu estou paraplégico é isso?
<Médico> O senhor tem sorte de estar vivo! Levou um tiro de fuzil a queima roupa, perdeu um rim, parte do fígado, por sorte não perdeu um pulmão!
<Eu> Nossa! Tudo isso?
<Médico> O senhor tem noção de quantos dias estás em coma?
<Eu> Um dia?
<Medico> Na verdade hoje completam 45 dias!
<Eu> 45? Nossa! Como está minha família?
<Medico> Ainda não os avisamos, queríamos vê-lo primeiro, quer começar os testes de sensibilidade pra ver até onde foi o estrago em sua coluna?
<Eu> Sim claro, podemos começar então!

As noticias não foram boas, perdi sensibilidade da sétima vértebra torácica pra baixo, o médico disse que eu teria de me escrever em um programa de reabilitação em um hospital e começar a me adaptar a minha nova vida, de cadeirante.

Quando minha família chegou, junto com um grupo de amigos meus do comando da polícia, começaram a chorar, até meu coronel que era o cara mais durão que eu já tinha conhecido chorou, eu tentei tranquiliza-los dizendo que eu estava vivo e isso era o que importava! Mas não surtiu muito efeito, eles continuavam chorando.

Depois de uns dias no hospital, tive alta e a notícia que meu comandante tinha conseguido uma vaga no melhor hospital de reabilitação do país, eles me disseram que lá eu aprenderia a andar novamente, fiquei muito feliz com aquilo, passei a semana me preparando pra viagem, minha mãe insistiu em ir comigo, eu terminei cedendo, visto que mal conseguia limpar minha bunda direito.

Ao chegar no hospital fui atendido por uma excelente equipe de profissionais, eles me disseram que ia passar por exames, pedi pra eles que minha identidade de policial não fosse revelada, visto que poderia haver bandidos lá dentro e o médico confirmou que tinham bandidos lá também, fiquei receoso comigo mesmo, será que algum deles eu tinha colocado ali?

A semana toda foi de exames, enquanto isso fui conhecendo os outros pacientes, estava a passar pelo corredor em frente a uma maca, quando um dos pacientes me cuspiu, eu olhei e lá estava um cara deitado de bruços, perguntei a ele porque me cuspiu?

<Paciente> Seu policial FDP! Estou nessa cadeira de rodas por sua causa, você não lembra né? Mas eu lembro do seu rosto arrastando meu corpo pelo chão, não me basta ter me dado 6 tiros, fiquei mais de um ano internado no hospital penitenciário, me mandaram pra cadeia, fiquei 5 anos preso e ganhei essa maldita escara de brinde!

<Eu> Se isso fosse fora daqui, tu sabe que eu já teria te derrubado dessa cama né seu merda? Não fui eu que te coloquei ai, foi você que escolheu esse caminho, o do crime e claro, cruzou o meu de policial, que te acertei em cheio, você e dezenas de outros e não me arrependo!
<Paciente> Seu FDP eu que queria poder sentar pra ir ai quebrar sua cara, seu policial escroto!

No meio da discussão chegou o enfermeiro, junto com o segurança e pediu pra nos acalmarmos, o segurança saiu tocando minha cadeira dali e pedindo pra eu ter calma, porque aquele não era o único bandido que tinha ali dentro e que eu teria de ter muita calma com eles, estava vendo que minha estadia ali seria longa...

Continua...

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Hoje o blog passou de 1.000 visitas! Muito obrigado a todos vocês!


Em certa reunião de um grupo de amigos, me foi sugerido escrever um blog contando nossa história, visto que como vocês leram nesses últimos meses de publicação, existem muitas coisas intimas, cujas pessoas não tem coragem de postar, eles me incentivaram, disseram que eu sabia escrever, que já tinha escrito livros e porque não blogs?

Confesso que de blog mesmo eu não entendo muita coisa, visto que uso meus blogs com a interface que o próprio blog me dá, já me ofereceram pra mudar o layout, pra fazer site do blog, etc... Como o reabilitando a distância tem mais de 17.000 visualizações e até hoje está em seu formato original, penso que o que vale é o conteúdo do blog, prova essa que hoje chegamos as 1.000 visitas com a mesma cara.

Comecei a escrever as histórias que fui lembrando, de cada um de vocês amigos, como me pediram não coloquei vossos nomes e esse segredo levarei pro tumulo, agradeço o incentivo e confesso pra vocês, escrever é viciante! Muito obrigado aos que me incentivaram muito obrigado aos leitores e muito obrigado a vocês que compartilham nas redes sociais!

O blog foi feito pra vocês!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Conto 0017 O cadeirante psicótico 2.0


Estava eu voltando do clube de tiro, confesso que estava adorando aqueles treinos de tiro, já sabia operar carabinas e pistolas de pressão, agora passara a também operar armas de fogo e cada vez mais eu gostava daquilo, já não conseguia viver sem!

Fiz muitos amigos no clube de tiro, todos eles relatavam dia após dia, o acontecimento da violação de seus direitos, eu perguntava porque eles não faziam nada, por isso, por aquilo, em resumo, por preguiça e preconceito de ser taxado de chato, mas, deixar os outros tirarem sarro da cara deles pode! Era isso que eu não admitia.

Um belo dia estava voltando do clube de tiro e parei na frente da casa de um amigo pra lhe entregar algumas munições que ele havia pedido, estava eu montando a cadeira quando notei a aproximação de um meliante pela calçada, logo peguei uma pistola e coloquei em baixo da perna fingindo que não o estava vendo, ele chegou e me abordou:

<Meliante> Boa noite senhor! O senhor tem algum trocado que possa me dar?
<Eu> Não amigo estou sem dinheiro! (Realmente não tinha um centavo no bolso)
<Meliante> Podia te assaltar agora hein aleijadinho FDP!
<Eu> Ô cara tu já ouviu fala das olimpíadas, quem te a corrida?
<Meliante> Que corrida o que seu FDP tá me tirando?
<Eu> Não! Mas é o que você vai fazer agora! Corre!

Apontei a arma pra ele e ele saiu correndo feito um louco na rua, nunca imaginou que um cara em uma cadeira de rodas iria abordá-lo tão agressivamente daquela forma, tratei de olhar pros outros lados e ver se não havia mais algum, foi quando vi outros dois próximo da porta do passageiro do meu carro, parados, pareciam estátuas!
<Eu> Ei vocês dois ai, corram também se não passo fogo em vocês!

Quando eles saíram correndo, não me senti seguro naquela área, tratei de tirar o carro dali. Fiquei pensando comigo, nem as pessoas com deficiência os bandidos perdoam hoje, não fosse ter entrado na aula de tiro e estar armado, não quero nem pensar no que poderiam ter feito comigo, mas, eu continuo na ativa, armado e perigoso com os infratores.

Continua...

terça-feira, 23 de abril de 2013

Conto 0016 A Lady versão 4.0



Quando chega final de semana nesse hospital é um silêncio que não tem fim, os que podem saem, vão passear e só voltam no outro dia, alguns só voltam na segunda feira, eu queria sair, mas, dependo de minha mãe, que definitivamente não gosta de sair.

Eu vejo os paraplégicos reclamando, ora mais, do que eles reclamam? Ainda podem pelo menos tomar banho, tocar a cadeira sozinha, fazem o CAT e tudo e eu não mexo meus braços, meu sonho era ser pelo menos paraplégica, seria bem mais independente.

Esse final de semana foi um bafafá no hospital, um grupo de pacientes estavam combinando pra sair, como eu queria ir com eles, como eu queria sair, mesmo nessa cadeira de rodas, uma balada ia me ajudar bastante, beber, ouvir musica, quanta saudade eu tenho disso.

Na segunda eles voltaram e estavam correndo as informações da festa pelo corredor, aquilo parecia um reality show, nada passava em branco, sempre saia uma informação e corria como o vento, logo todos estavam sabendo, a balada deles foi um sucesso, confesso que fiquei com inveja.

Ana uma das meninas que foi pra balada ficava ao lado da minha cama da enfermaria, os olhos dela brilhavam quando ela chegou ao hospital, eu até tentei falar com ela, mais ela veio e foi tão rápido, nem deu tempo de perguntar alguma coisa.

Eu fiquei imaginando como seria sair, primeiro pensei como eu iria beber, como segurar um copo se meu braço mal se mexia, pelo menos a música, ver gente, fiquei por alguns minutos pensando como seria, então minha mãe me avisou que estava na hora da fisioterapia.

Quando cheguei na fisioterapia contei pro fisioterapeuta minhas intenções de sair, ele me disse que eu poderia sair, que não haveria motivo pra não sair, mas, precisava de ir com um acompanhante, isso era evidente, minha mãe? Descartada! Em vários anos com meu pai, eles pouco saíram.

Mas como eu iria? Essa pergunta ficou o dia todo em minha mente, quando a noite caiu e as atividades do hospital cessaram, eu pedi pra minha mãe me levar lá em baixo, mais uma vez ela disse que não estava afim, por isso, por aquilo, eu pedi pra ela pelo menos me deixar lá.

Ela em vez de me ajudar, me deixa mais frustrada, cada vez que ela faz isso, me faz sentir mais impotente, se eu pudesse pelo menos tocar minha cadeira de rodas, mas, nem isso eu posso fazer e a única pessoa que podia me ajudar, era minha mãe e ela literalmente não faz isso.

Continua...

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Conto 0015 O parto 2.0



Uma coisa que observei ao sair para a escola é que o filho de pessoas que não tem deficiência choram ao ir à escola, eu realmente não intendo isso, porque a escola pra mim é como se fosse a extensão de minha casa, lá eu brinco, pinto, conheço novos coleguinhas, realmente amo minha escola, principalmente por ela ser acessível!

Muitos anos se passaram, as brincadeiras passaram a ser matérias, fiquei muito triste porque muitos dos meus amiguinhos que tem deficiência intelectual não conseguiram seguir em frente por conta de duas limitações, as turmas que eram enormes ao longo dos anos tiveram de ser unidas pra formar turmas cada vez menores devido ao avanço das séries de ensino.

Uma das coisas que me transtornava era quando as pessoas se dirigiam a minha mãe, como se eu não pudesse responder, com perguntas tipo: Que lindo ele fardado, ele estuda?
Eu sempre respondia dizendo que além de estudar eu também falava e que me perguntassem as coisas que eu mesmo respondia!

Minha vida escolar foi ótima, até terminar o ensino fundamental, em minha cidade não havia escola com ensino médio para pessoas com deficiência, eu sempre fui um bom aluno, totalmente dedicado ao estudo, tirei as melhores notas de todo o colégio, tive atenção especial de todos no colégio por conta disso, eu me sentia muito especial.

Por não encontrar uma escola adaptada, meus pais decidiram me matricular em uma escola do ensino regular médio, quando as aulas começaram, meus tormentos também começaram, primeiro porque a escola não tinha nenhuma rampa, depois porque todos olharam pra mim, como se eu fosse um alienígena!

Nesse período foi quando comecei a sofrer o preconceito na pele, os alunos não conversavam comigo, pelo contrário, me chamavam de aleijadinho, sorriam de mim o tempo todo, fiquei muito triste nos primeiros meses de aula, isso se refletiu em minhas notas, que passaram das melhores para as piores da turma e uma das piores do próprio colégio.

Meus pais foram na direção, levaram minhas notas antigas, eles comentaram com a diretoria sobre o preconceito que eu estava vivendo, a falta de acessibilidade, todo o terrorismo que eu vivia foi exposto à direção da escola, não parou por ai, meu pai ficou tão revoltado que levou o caso à própria secretaria de educação do estado.

Nesse meio tempo um aluno veio falar comigo, Ricardo se mostrou totalmente diferente dos outros, ele disse que viu os alunos zoarem da minha cara e ficou muito irado com isso, conversamos um monte, contei pra ele como foi minha vida até entrar naquela escola, nos tornamos bons amigos e passávamos boa parte do tempo juntos.

Continua...

terça-feira, 16 de abril de 2013

Conto 0014 O motoboy 6.0


<Francisco> E agora João o que faremos?
<João> Você eu não sei, mas eu quero dançar, mesmo na cadeira de rodas, não estou nem ai, eu quero aproveitar a noite, eu amo musica eletrônica!
<Francisco> Tudo bem então, eu vou tomar uma pra relaxar, estou precisando!
<João> Ok vai lá tomar a sua que eu vou ficar aqui certo?

João saiu pra comprar a bebida e Francisco ficou ali dançando, ele parece sentir a musica entrando em seu corpo, estava dançando feliz da vida, certo momento ele fechou os olhos como se estivesse sentindo a musica, ao abrir os olhos, estava lá, a dama de vermelho dançando em sua frente, eles não deram uma palavra, simplesmente continuaram dançando.

Enquanto isso João pegou sua bebida e ficou olhando a pista de dança, quando menos espera, um mulher senta em seu colo e diz:

<Carol> Oi meu nome é Carol, posso ficar sentada no seu colo?
<Francisco> Claro fique a vontade!
<Carol> É que aqui existem poucos lugares pra sentar e eu estou cansada de dançar, o que você está bebendo ai?
<Francisco> Vodka com refrigerante!
<Carol> Estou com cede posso dar um gole?
<Francisco> Claro fique a vontade!

<Carol> O que aconteceu com você pra estar na cadeira de rodas?
<Francisco> Acidente de carro!
<Carol> Nossa que tenso!
<Francisco> Graças a Deus estou vivo e você está sentada no meu colo!
<Carol> Você vem sempre aqui?
<Francisco> Não é a primeira vez, na verdade é a primeira vez que saio depois do meu acidente!

<Carol> Certo então vamos tornar essa noite inesquecível ok?
<Francisco> Tudo bem o que você quer fazer?
<Carol> Primeiro vamos tomar essa Vodka e pedir mais uma, conversamos um pouco mais, depois vamos dançar certo?
<Francisco> Ok quando formos dançar quero procurar um amigo meu que está aqui pode ser?
<Carol> Claro! Você é solteiro?
<Francisco> Sim!

Então eles começaram a se beijar, depois pegara mais uma dose de Vodka e foram pra pista de dança atrás de João, Francisco quando olhou estava João dançando no meio da pista passando a mão no corpo de uma loira linda e escultural, com um sexy vestido vermelho, ele quase não acreditou naquilo.

Encostou sua cadeira perto da de João e cutucou ele, João olhou e viu Francisco, com Carol, que era uma morena de tirar o fôlego, com um vestido colado no corpo, preto, e muito curto, deixando as pernas à mostra, ele então chamou sua loira e apresentou à João e sua acompanhante:


<João> Francisco essa aqui é a Lorena, Lorena Francisco!
<Lorena> Prazer!
<Francisco> João essa é a Carol, Carol meu amigo e a Lorena!
<Carol> Prazer! Vamos balançar esses corpos então?
<João> Pessoal na boa já estamos dançando a muito tempo, Francisco e Carol nós vamos tomar alguma coisa ok? Não sai daqui que voltamos, esse é nosso ponto de encontro certo?
<Francisco> Ok vai lá!

Continua...

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Conto 0013 O motoboy 5.0



Passamos a semana toda chamando o pessoal do hospital pra sairmos juntos e ir na balada, eu literalmente pensava que todos poderiam ir, mas, ao final somente alguns toparam, primeiro porque a balada era um pouco cara, depois tinha que dormir fora do hospital e eles não tinham tanto dinheiro assim, o acertado foi eu, Ana, Felipe, Manoela, Francisco e João. Das centenas de pacientes do hospital, só nós podíamos física, psicológica e monetariamente, esses foram os fatores determinantes.

Ao chegarmos na balada foi aquele choque, tipo, a balada inteira parou pra ver aquele bando de cadeirantes invadindo a pista, eu pedi logo pro segurança pra eu, Ana e o pessoal fôssemos direto pro VIP, pra sair daquela muvuca, Francisco e João disseram que ficariam, porque queriam “atacar” as mulheres, começamos a ir e fomos pro VIP e eles pro meio da pista.

Manoela e Felipe mal chegaram ao local reservado pra nós, começaram a se beijar, eu olhei pra Ana e começamos a fazer o mesmo, isso até que o garçom interrompeu perguntando o que íamos beber, decidimos pegar um litro de Whisky e energéticos, Manoela pediu licença pra conversar com Ana e colocou a cadeira do lado dela, automaticamente eu e Felipe nos viramos pra pista de dança, pra observar como estavam Francisco e João.

<Manoela> Amiga me conta, naquele hospital nem podemos conversar direito porque as paredes tem ouvidos, vocês vieram pra cá certo e depois?
<Ana> Ai amiga, foi ótimo depois fomos pra um motel e blablabla...
<José> Cara olha aquilo! O João está dançando com uma mulher!
<Felipe> Caralho velho, o cara se garantiu Brother e está dançando mesmo!
<José> Cadê o Francisco?
<Felipe> Boa pergunta, não estou vendo ele!

Enquanto isso João dançava na pista com uma loira, ela estava de vestido vermelho e salto alto, dançando toda sexy pro João e ele fazendo o que podia pra dançar, na verdade o pessoal até se afastou deles e deixaram eles dançar bem a vontade, na verdade os outros olhavam como se o João e sua Loira fossem alienígenas de outro planeta.

Estava olhando a pista de dança procurando Francisco,  o VIP onde estávamos é acima da pista de dança, de lá tínhamos a visão completa da pista, não estava conseguindo encontrar Francisco, quando menos espero Felipe puxa meu braço e grita:

<Felipe> Ali no canto da pista olha!
<José> Cara aquela mulher está sentada no colo dele e os dois estão conversando ou eu bebi demais?
<Felipe> Cara confesso que Francisco é meio tímido e achava que ele não ia pegar ninguém, mas, ele me surpreendeu, vamos ver se sai algum coelho daquela cartola!
Eu e Felipe ali bebendo, olhando a pista, conversando quando Ana puxa minha cadeira e fala:

<Ana> Ei vocês querem dar atenção pra nós?
<José> Mulheres primeiro pedem pra ficar sós pra colocar a fofoca em dia, depois nos chamam como se nós tivéssemos saído pra colocar o papo em dia!
<Felipe> Cara não tente entender elas, simplesmente viva com elas e pronto!
<Manoela> Você está certo meu homem! Agora cala a boca e me beija!

Continua...

terça-feira, 9 de abril de 2013

Conto 0012 O motoboy 4.0


Eu estava muito feliz, sai com uma mulher, fiz sexo com ela, vivi uma balada muito legal, no hospital eu conversei com muitas pessoas, porém sempre tem alguém com quem nos identificamos mais que os outros, essa pessoa era o Felipe, ele é meu amigo, malhávamos juntos, jogávamos basquete no mesmo time, tudo isso era feito pelo hospital, pra nos mostrar que éramos capazes de fazer várias coisas.

Eu o chamei pra descermos pro lugar onde os pacientes e acompanhantes ficavam conversando, era no térreo do hospital, estava louco pra contar pra ele tudo o que tinha acontecido, chagando lá conversamos:
<José> Cara eu saí final de semana, foi muito bom!
<Felipe> Eu sei, senti sua falta
<José> Cara eu pensava que estava ferrado, que viver na cadeira de rodas era o fim, esse final de semana descobri que é um recomeço!
<Felipe> Como assim?

<José> Cara nós fomos pra uma balada, tomamos umas e outras a festa foi muito boa, tudo bem que os seguranças tiveram trabalho conosco, subindo e descendo degraus, mas, foi muito bom!
<Felipe> Que legal cara! Que tipo de som toca nessa balada?
<José> Cara toca de tudo um pouco, eletrônica, funk, hip-hop...
<Felipe> Pode parar! Eu quero conhecer esse lugar! Vamos movimentar esse hospital de reabilitação!

<José> Ei você está louco? No que está pensando?
<Felipe> Brother é o seguinte, desde que sofri meu acidente eu nunca saí, nunca mais fui em uma balada, mas, depois de ver esse brilho nos seus olhos, fiquei com muita vontade de ir nessa balada!
<José> Vou te contar mais uma coisa, mas, tu terás de me prometer que não irás de forma alguma contar para outra pessoa, você promete?

<Felipe> Ainda tem mais coisa, eu prometo, eu juro! Conta!
<José> Nós fomos pro motel!
<Felipe> Calma você está me dizendo que foi pra um motel com a Ana? É isso?
<José> Fui cara e foi muito bom, meu coloquei em prática tudo o que a sexóloga e a psicóloga disseram, Felipe eu gozei cara! Sabe o que é isso? Eu pensei que nunca mais depois da lesão iria gozar, mas, eu consegui!

<Felipe> Meu tu foi pra uma balada louca, com a gata da Ana e depois foi pra um motel com ela e gozou? Pqp! Eu quero isso!
<José> Pois é amigo, eu também estou meio sem acreditar que tudo isso aconteceu
<Felipe> Brother vou fazer uma revolução nesse hospital, quero convencer o máximo de pessoas que conseguir, pra todos nós irmos nessa balada!

<José> Ei você está louco? Vai contar tudo pros outros?
<Felipe> Não brother só a parte da balada! A outra parte eles que se virem!
<José> Está bem, gostei da idéia, quem sabe eles pensam como nós, e esquecem um pouco todo o sofrimento!

<Felipe> Isso vamos nessa, temos que reunir o maior numero de cadeirantes e acompanhantes possível pra essa façanha!
Começamos a contar pros outros eu e o Felipe que se contaminou com meu brilho nos olhos e falavaa com total empolgação, tudo bem que a maioria chamou eu e ele de louco, com aquele papo de estou na cadeira de rodas a vida acabou blábláblá...

Já os outros, adoraram a ideia, percebi que Felipe e Manoela estavam empolgados com a ideia e que havia um certo clima de romance entre eles, alguns queriam ir e não podiam, seu quadro clínico era bem pior que o nosso, mas, prometemos voltar e contar tudo pra eles!
Como será essa balada?
Continua...

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Conto 0011 O ativista terrorista 3.0


O pessoal me chama de maluco, não sou louco, apenas revoltado com a ignorância de nossa sociedade e com aquelas pessoas com perguntas sarcásticas e idiotas sobre deficiência, o que vou lhes contar hoje é algo corriqueiro para os deficientes, deve ter acontecido com vocês!
Certo dia estava eu parado em uma rua atendendo o telefone dentro do carro, não sabia que aquela área era perigosa, fui abordado por um meliante:

<Assaltante> Você ai, desce do carro ou estouro seus miolos!
<Eu> Amigo eu sou cadeirante! Será que você vai saber dirigir meu carro?
<Assaltante> Cara não quero saber o que tu é porra, que merda de cadeirante o que é isso? Tu é polícia?
<Eu> Não sou aleijado po! Olha minha cadeira de rodas aqui! Meu carro é adaptado não funcionam os pedais, tem que dirigir com as mãos!
<Assaltante> Puts que merda ein? Certo então vai embora e tira essa porra de carro de aleijado daqui!

Não conseguia nem sair com o carro direito do lugar, o carro estancou umas duas vezes, na terceira eu sai acelerado como um louco, pela primeira vez em minha vida a deficiência me salvou, mesmo o ladrão me chamando de aleijado e tudo, não me importei, o que importa é que eu continuei vivo e não perdi meu carro, que são minhas pernas literalmente.

Se uma vez foi um ladrão, na outra foi um policial, estava dirigindo meu carro pela via, junto com minha mãe e logo à frente avistamos uma blits, minha habilitação estava em dia e o documento do carro também, então não me preocupei, eles mandaram eu encostar o carro, quando parei o carro o policial veio ao nosso rumo e nos abordou:

<Policial> Boa noite senhor o senhor pode sair do carro com as mãos pra cima e colocar as mãos sobre o motor do carro?
<Eu> Senhor eu sou cadeirante! Não tenho como sair do carro e ficar em pé!
<Policial> Ok me desculpe e seu amigo ai do lado?
<Eu> É minha mãe senhor!
<Policial> Ok me desculpe mais uma vez! O Senhor pode me dar o documento do carro e sua carteira de motorista então?
<Eu> Estão aqui senhor!

Ele verificou que o documento e o carro estavam ok e me liberou, minha mãe disse se sentir mal com aquela situação e pediu que eu fosse pra casa, dirigi pra casa então.

Um dia estava andando na rua e uma pessoa me abordou em frente uma grande loja de departamentos, me ofereceu o cartão da mesma, disse que eu não teria anuidade e limite de crédito pré-aprovado e já poderia comprar na loja no mesmo momento, eu aceitei e preenchi os formulários.

Entrei na loja e comecei a comprar roupas que eu precisava, estava tudo bem, até eu pedir pra ir ao provador, pasmem o provador não era adaptado, claro eu fiquei irado e comecei a reclamar com todos na loja, o gerente chegou, pediu pra eu me acalmar e decidiu fechar o vestiário, para que eu pudesse me trocar com total privacidade, até que gostei, o vestiário era grande, as cabines que eram pequenas, nem dava pra cadeira entrar, em fim provei as roupas e fui pra casa.

As roupas eram legais e eu me sentia na moda, passou um mês e chegou o dia de eu pagar o cartão, fui para a loja pagar a fatura, entrei e perguntei para a atendente onde era o caixa pra pagar o cartão, ela ficou um pouco nervosa e disse que era no segundo andar, só que não tinha elevador, era uma escada rolante.

Comecei a gritar dentro da loja, chamando o gerente, isso era um insulto! Quando o gerente chegou eu liguei meu celular e comecei a gravar tudo, disse pra ele que já me bastava o caso do provador agora eu fiz o cartão e não tenho como pagar e não iria pagar, ele disse que poderia subir lá por mim e pagar, eu me neguei!

Disse pra ele que meu direito de ir e vir foi violentado naquela loja, não só uma, mais duas vezes e meu limite de aceitação tinha acabado, eu entraria com o processo contra a loja, todos ficaram pasmos, disse pra eles que eu estava gravando no meu celular, o gerente da loja me fez uma proposta, meus débitos estavam quitados, a loja pagaria meu cartão, para eu não entrar com o processo, eu adorei a proposta e ele disse que quando eu voltasse à loja, ela já estaria acessível para mim.

Continua...


quarta-feira, 27 de março de 2013

Conto 0010 A Lady versão 3.0

Depois de muito tempo consegui vaga no hospital de reabilitação, no dia da internação fiquei espantada com o tanto de cadeirantes que eu vi, quando ficamos na cadeira de rodas, pensamos só em nós, mas, naquele dia eu vi que existem muitos de nós, cadeirantes. O médico me disse que a primeira coisa que seria feita era uma bateria de exames pra ter um diagnóstico preciso do meu caso e que ao longo dos dias eu seria atendido por uma equipe multiprofissional, médicos, fisioterapeutas, psicólogos... E que cada um deles teria uma consulta particular comigo.

Ao chegar na enfermaria os enfermeiros me deixaram sem graça, com perguntas um tanto intimas:
<Enfermeira1> A primeira coisa que vamos fazer é tirar essa sonda de demora e você começará a fazer o cateterismo intermitente, que aqui chamamos de CAT, como você e seu acompanhante não sabem fazer isso nós o faremos. Você fez cocô hoje?
<Maria> Como assim, que tipo de pergunta é essa, isso é muito intimo não?
<Enfermeira1> Maria isso é normal, todos os dias irão te perguntar se você fez cocô, como eram suas fezes, coisas do tipo, se você não evacua suas fezes podem ressecar em seu intestino, se isso acontecer, seu quadro clínico piora!
<Maria> Tudo bem, faz uns 15 dias que eu não faço cocô
<Enfermeira1> Certo colocarei aqui que sua dieta é laxante, e a partir de agora você irá tomar laxante pra ver se o intestino funciona
<Maria> Certo
<Enfermeira1> Então vamos tratar de tirar essa sonda!

Ela fez o procedimento de tirar a sonda, nossa, só de ver aquilo eu já me sentia constrangida, os primeiros dias foram uma bateria de exames sem fim, minha mãe era minha acompanhante, quando não tinha o que fazer eu andava com ela pelo hospital, era enorme, nunca tinha visto um hospital daquele jeito, tudo limpo, organizado o pessoal todo sorridente, muitos profissionais de todas as espécies.
Ainda tinha de me acostumar a fazer o tal CAT, de quatro em quatro horas a enfermeira aparecia pra tirar o xixi da minha bexiga, o CAT é a sigla pra cateterismo, que nesse caso o nome completo é cateterismo vesical intermitente, eles explicaram que como meu corpo não fazia mais xixi do meio tradicional, nós teríamos que fazer isso, caso a urina ficasse retida no organismo, poderia danificar o rim e em ultimo caso perder o rim, ele para de funcionar, esse mundo era uma coisa totalmente nova pra mim, cheio de rituais e siglas.

Após uma semana no hospital finalmente terminaram os exames, mas, nada de fazer cocô, eles me deram vários tipos de laxante ao mesmo tempo e nada, por fim a enfermeira disse que na hora do banho iria tentar uma técnica diferente pra ver se o cocô saia, eu nem me toquei nesse negócio de técnica, na hora do banho foi o terror, eles já tinham ensinado pra minha mãe fazer uma tal massagem na hora do banho, mas, aquilo nada adiantava.

A enfermeira disse que teria de ser dessa forma, que não haveria outra, então ela colocou uma luva, passou óleo mineral no dedo e enfiou o dedo no meu anus, nossa, quantos namorados meus não pediram pra eu fazer sexo anal e eu nunca tinha feito, no entanto perdi minha virgindade anal com uma dedada, depois que ela fez esse tal estímulo, eu comecei a defecar, mas, confesso que fiquei traumatizada com aquela cena.

Quando saí do banheiro, mal conseguia olhar nos olhos das pessoas, será que todos aqui já passaram por isso? Será que esse é o procedimento mesmo? Não me conformei com isso, depois da hora do jantar os pacientes desciam pra uma parte do hospital, onde tinham bancos e ficavam ali conversando, eu pedia pra mãe pra descer com eles, mas, ela nunca queria ir, eu ficava deitada naquela cama, aquilo estava ficando monótono.

Chegou segunda feira, um fisioterapeuta me colocou na cadeira e me levou até o local onde se fazia fisioterapia, lá começou a fazer uma série de testes comigo, de sensibilidade e movimento, eu pensava em mexer e nada, até que olhei pro meu braço e ele deu uma espécie de tremida, ele logo pediu pra eu tentar repeti o movimento, eu repeti e ele mexeu mais um pouco, nossa, fiquei tão feliz, ele me disse que isso era um bom sinal, que logo eu poderia ganhar novos movimentos.

Durante a semana comecei a ir em várias aulas, nelas eu aprendi o que é uma lesão medular, o que era o CAT e porque fazê-lo, descobri que aquela dedada que eu recebi, era procedimento padrão, porque se o cocô ficar dentro do organismo pode me causar diversos sintomas indesejáveis, aprendi que não posso ficar muito tempo sentada na mesma posição, porque isso pode dar escara, que é uma ferida na pele, a semana foi bastante produtiva, pelo menos eu saí daquela monotonia de ficar deitada.

Aquela rotina estava me torrando a paciência, todo dia as enfermeiras perguntavam se eu tinha evacuado, se tinha saído bastante cocô, nossa, nunca ninguém tinha me feito esse tipo de pergunta, ainda demoraria até eu me acostumar com isso, e o tal CAT, quando eu menos esperava a enfermeira vinha e fazia o CAT em mim, dizia que estava na hora e simplesmente fazia.

Um dia a mãe me levou lá pra baixo do hospital, onde os outros pacientes ficavam, quando cheguei lá encontrei uma enorme roda de cadeirantes, nossa fiquei tão feliz, comecei a conversar com eles, eram pessoas muito legais, todos perguntavam em que nível era minha lesão e diziam as deles, se eu sentia algo, como tinha sido meu acidente, depois de um bom tempo sem badalar, mesmo em um hospital, eu estava gostando, sorri demais, eles eram muito legais, nunca pensei que um dia voltaria a sorrir de algo, mas, confesso, estou começando a me adaptar a essa nova vida.

Continua...