sexta-feira, 19 de abril de 2013

Conto 0015 O parto 2.0



Uma coisa que observei ao sair para a escola é que o filho de pessoas que não tem deficiência choram ao ir à escola, eu realmente não intendo isso, porque a escola pra mim é como se fosse a extensão de minha casa, lá eu brinco, pinto, conheço novos coleguinhas, realmente amo minha escola, principalmente por ela ser acessível!

Muitos anos se passaram, as brincadeiras passaram a ser matérias, fiquei muito triste porque muitos dos meus amiguinhos que tem deficiência intelectual não conseguiram seguir em frente por conta de duas limitações, as turmas que eram enormes ao longo dos anos tiveram de ser unidas pra formar turmas cada vez menores devido ao avanço das séries de ensino.

Uma das coisas que me transtornava era quando as pessoas se dirigiam a minha mãe, como se eu não pudesse responder, com perguntas tipo: Que lindo ele fardado, ele estuda?
Eu sempre respondia dizendo que além de estudar eu também falava e que me perguntassem as coisas que eu mesmo respondia!

Minha vida escolar foi ótima, até terminar o ensino fundamental, em minha cidade não havia escola com ensino médio para pessoas com deficiência, eu sempre fui um bom aluno, totalmente dedicado ao estudo, tirei as melhores notas de todo o colégio, tive atenção especial de todos no colégio por conta disso, eu me sentia muito especial.

Por não encontrar uma escola adaptada, meus pais decidiram me matricular em uma escola do ensino regular médio, quando as aulas começaram, meus tormentos também começaram, primeiro porque a escola não tinha nenhuma rampa, depois porque todos olharam pra mim, como se eu fosse um alienígena!

Nesse período foi quando comecei a sofrer o preconceito na pele, os alunos não conversavam comigo, pelo contrário, me chamavam de aleijadinho, sorriam de mim o tempo todo, fiquei muito triste nos primeiros meses de aula, isso se refletiu em minhas notas, que passaram das melhores para as piores da turma e uma das piores do próprio colégio.

Meus pais foram na direção, levaram minhas notas antigas, eles comentaram com a diretoria sobre o preconceito que eu estava vivendo, a falta de acessibilidade, todo o terrorismo que eu vivia foi exposto à direção da escola, não parou por ai, meu pai ficou tão revoltado que levou o caso à própria secretaria de educação do estado.

Nesse meio tempo um aluno veio falar comigo, Ricardo se mostrou totalmente diferente dos outros, ele disse que viu os alunos zoarem da minha cara e ficou muito irado com isso, conversamos um monte, contei pra ele como foi minha vida até entrar naquela escola, nos tornamos bons amigos e passávamos boa parte do tempo juntos.

Continua...

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