sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Conto 0005 A Lady versão 2.0

Estando em casa o tempo demorava a passar, antes minha agenda era sempre lotada de compromissos, agora eu era uma pessoa totalmente dependente, pra comer, escovar os dentes, pentear os cabelos, coisas que são tão simples, mas, que pro meu atual estado de tetraplegia, são totalmente difíceis, estava com saudade de minhas amigas, porque elas não apareciam?

Parece que Deus ouviu minhas preces, minha melhor amiga Francisca estava chegando em casa, minha mãe me avisou, quando ela entrou pela porta do quarto, com um arranjo de flores lindas, começou a chorar, me abraçou na cama, passando a mão em meu rosto, não conseguia parar de chorar, então depois de um tempo, ela falou:

- Francisca – Amiga todas nós queríamos te ver, mas, quando falávamos em você, ninguém tinha coragem de vir até aqui, nós só chorávamos e pensávamos como seria quando víssemos você, agora você já sabe, nós choraríamos, meu Deus, todos esperando você na formatura e você nada de chegar, quando liguei pro seu telefone, sua mãe atendeu e me disse o ocorrido, entrei em choque, travei, fiquei ali sem acreditar no que ela estava me contando, depois disso, a festa da formatura perdeu o sentido, fomos quase todos pro hospital onde você estava, passamos a noite lá.

- Maria – Mas que droga, quer dizer que eu estraguei a festa? Além de aleijada agora a estraga prazeres, no que eu me tornei?
- Francisca – Calma amiga desencana, acidentes acontecem todos os dias, simplesmente você caiu de uma escada e ficou em uma cadeira de rodas, isso é normal!
- Maria – Normal? Eu estou usando fraudas e tem essa sonda ridícula em minha genital, ligada aquele tubo asqueroso cheio de xixi, eu não consigo mover se quer meus braços e você diz que isso é normal Francisca?

- Francisca – Amiga eu andei fuçando na internet, procurando saber um pouco sobre seu quadro, descobri muita gente legal, eles são tetraplégicos e conseguem ter uma vida normal, trabalham, namoram...
- Maria – Quem vai querer uma mulher com esses cabelos de bruxa, essa frauda e a porra desse saco de xixi Francisca?
- Francisca – Entendo sua revolta, penso que se eu estivesse em seu lugar, estaria pensando a mesma coisa, veja o pessoal da internet falou de uma tal reabilitação, que você tem que fazer, pra aprender a se virar sozinha, tem um hospital muito bom, lá eles disseram que sua vida vai mudar!
- Maria – Nada de hospital, o que eu farei lá? A mesma coisa que faço aqui, NADA!
- Francisca – Calma Maria, não é assim que funciona, você tem que pensar no amanhã, em um tratamento pra tentar reverter seu caso!

- Maria – Eu não quero pensar nisso por enquanto, acabei de chegar do hospital e não quero votar pra ele de novo, agora quero um tempo só meu!
- Francisca – Certo, vamos mudar de assunto então, as meninas estão programando um dia pra todas nós virmos juntas, eu vim primeiro porque não aguentei de saudade amiga, eu queria te ver, não me importo se você é tetraplégica, cadeirante, seja o que for, nós somos amigas e é isso o que importa!

Quando Francisca me disse isso, comecei a chorar, era disso que eu precisava, de palavras amigas de conforto, ficamos ali horas e horas conversando, ela disse que quando as meninas viessem nós faríamos um dia de beleza, ela iam cortar meu cabelo, me depilar, praticamente fazer da minha casa um salão de beleza, confesso que gostei da ideia, ela saiu da minha casa tarde da noite, me atualizou de tudo o que tinha acontecido enquanto eu estava trancada em meu mundinho.

Certo dia ao acordar, eu vi uma cadeira de rodas do lado da minha cama, fiquei olhando pra ela, eu nunca tinha visto de perto uma cadeira de rodas, chamei pela mãe, pouco tempo depois ela apareceu com outra mulher em meu quarto, era uma fisioterapeuta, ela me disse que iríamos fazer fisioterapia todos os dias, para que meus membros não atrofiassem, a primeira coisa que ela quis fazer foi me colocar sentada na cadeira, eu estava a tanto tempo deitada que adorei a ideia de sentar.

Ela me colocou na cadeira de rodas de uma forma tão prática que minha mãe ficou assustada com o movimento que ela fez, ao me colocar na cadeira eu vi o mundo rodando e desmaiei...

Quando acordei estavam as duas ali me olhando, a fisioterapeuta disse que era normal, que quando se passa muito tempo deitado, ao sentar isso acontecia mesmo, disse que todo dia íamos fazer a mesma coisa, até meu organismo se adaptar novamente, eu enchi ela de perguntas de todos os tipos, ela me disse que eu ainda estava em uma fase chamada de choque medular, até o tempo certo, eu poderia ganhar movimentos.

Os dias se repetiam Márcia à fisioterapeuta todos os dias fazia movimentos em meus pés, pernas, braços e mãos, eu ficava muito triste porque não consegui sentir seu toque, os movimentos, apenas assistia aquela cena, quando consegui ficar sentada e não desmaiar, ela e meus pais me desceram da escada e me levaram até o jardim pra eu pegar um sol, depois de tanto tempo confinada em meu quarto, pude sentir o cheiro das rosas que minha mãe planta no jardim.

Eu nunca tinha parado pra observar o jardim, sempre passava por ele correndo, atrasada pra algum compromisso, ouvir o canto dos pássaros, Márcia tentou me convencer a ir para o tal hospital de reabilitação, que lá eu poderia ter ganhos e me desenvolver melhor, perguntei pra ela se eles iam me fazer andar e sentir de novo, ela disse que existe inúmeras probabilidades, mas, que eu teria de experimentar pra saber até onde eu conseguiria ir, estava quase aceitando aquela ideia.

Pedi pra minha mãe entrar na internet e procurar saber desse hospital, encontramos inúmeras recomendações, todos falavam que o hospital era tudo de bom, então pedi a meu pai que entrasse em contato com eles, pra saber como funcionava, ele me disse que eu teria de entrar em uma fila de espera, que poderia dar entrada pedindo minha internação, já que era pro meu bem, eu aceitei, pedi pra ele que entrasse com o processo de internação, que eu iria.

Continua...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Conto 0004 Motoboy versão 2.0


Consegui vaga em um hospital de reabilitação, o bom de morar em uma grande metrópole é ter acesso fácil à saúde, não aguentava de ansiedade para entrar naquele hospital, todo mundo dizia na internet que depois dele minha vida mudaria completamente, realmente espero isso, não aguento mais ser tratado como bebê pelos meus pais, eu sei que eles fazem por amor, mas, não gosto disso, eu sempre fui independente.
O dia chegou, ao chegar no hospital, vi aqueles tantos de cadeirantes, parecia que eu tinha chegado ao paraíso, todos me cumprimentavam sorridentes, gostei da atmosfera daquele lugar, ao chegar no consultório do médico fiquei pasmo, tinham umas 8 pessoas lá dentro, depois descobri que cada um ali representava uma profissão, médico, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo... Nossa, era um sonho, nunca tinha visto hospital público como aquele.

Lá eles disseram que eu ia aprender a me virar sozinho, que eles teriam de fazer uma bateria de exames pra ter um diagnóstico melhor de minha lesão medular, confesso que me sentia um bife na chapa, vira pra um lado, vira pro outro, os equipamentos todos modernos, parecia hospital particular, nunca tinha conhecido um hospital público no Brasil como aquele, logo soube que eles eram referência planetária em reabilitação.

Uma das minhas principais dúvidas era como eu faria sexo e se eu poderia fazer isso, então tivemos uma aula de sexologia, fiquei impressionado, a sexóloga disse que temos várias áreas erógenas no corpo e que deveríamos explorá-las, eu nunca tinha parado pra pensar nisso, simplesmente era colocar o órgão dentro e pronto, só que agora ele não funcionava mais e eu me perguntava como faria então?

As respostas logo vieram que eu teria de ter uma companheira que gostasse de mim, quando isso acontecesse eu saberia como fazer e como eu arrumaria uma companheira? Quem iria me querer em uma cadeira de rodas? Essas dúvidas roíam em minha cabeça e não havia resposta pra isso, a sexóloga disse que um dia aconteceria naturalmente, pra eu não me preocupar com isso, se não iria entrar em surto e seria pior.

No hospital conheci centenas de outras pessoas, dentre elas Ana, uma cadeirante do interior, caiu de um cavalo, ela era muito linda, mas, tinha uma tristeza no olhar, eu comecei a puxar assunto com ela e ela conversava poucas palavras, a maioria monossílabas, a família dela era muito rica, produtores agrícolas e ela se dizia amaldiçoada, pois com todo dinheiro do mundo, ela não conseguiria voltar a andar.

Eu tentava alegrá-la de todas as formas, contava piadas, falava besteira e com o tempo pude perceber que ela estava começando a mudar. Nós podíamos sair final de semana no hospital, sexta à noite e voltar na segunda, certo dia Ana me perguntou se eu já tinha ido pra alguma balada e eu disse que não, ela perguntou se eu sairia com ela, disse a ela que eu esperava o dia que isso aconteceria, mas, que eu que iria chama-la pra sair, confesso que fiquei surpreso, combinamos então de sair na sexta.

Quando sexta em fim chegou, eu não conseguia controlar a ansiedade, não sabia que roupa vestir, nem que perfume usar, então na hora marcada, nos encontramos na saída do hospital, Ana estava linda e muito cheirosa, pedimos um taxi então e seguimos pra uma balada que ela havia escolhido, era um lugar onde ela sempre ia antes do acidente, ao chegar no local, nos deparamos com alguns obstáculos, degraus, mas, os seguranças logo nos ajudaram a passar por eles, muito educados e prestativos.

Uma coisa que me perturbou foi passar pela multidão, a balada estava lotada e pra passar de um lugar ao outro era uma dificuldade enorme ficar pedindo pras pessoas saírem do meio, quando andava nunca tinha pensado o quanto isso fácil e hoje tão difícil, por fim Ana que também estava muito irritada com tudo aquilo, foi na gerencia da balada e pediu que fossemos levados até a área VIP, onde tinham menos pessoas e lá foi onde ficamos mais a vontade.

Ana entrou em paranoia dizendo como era diferente quando ela andava e eu dizendo que aquilo era passado, que estávamos ali pra nos divertir, justamente pra não lembrar do passado, segurei as mãos dela, olhei bem no fundo de seus olhos e então comecei a sorrir, dizendo a ela que queria beijá-la, mas, visto que os dois éramos cadeirantes, não sabia como fazer, ela então colocou a cadeira dela perto da minha e demos nosso primeiro beijo.

Os minutos depois disso parecem que não passavam mais, ficamos ali, dançando como podíamos, tomando uns drinques, nos beijando acariciando, confesso que estava adorando aquilo tudo, era um universo novo que estava diante dos meus olhos, eu pensava que nunca arrumaria uma companheira e quando menos espero, já estávamos ali e eu me perguntando se aquilo não era um sonho.

Quando olhamos pras janelas do local, o dia já estava amanhecendo, passou muito rápido, confesso que aquilo parecia um conto de fadas, a noite foi super agradável, Ana era uma companhia perfeita, eu estava muito feliz porque consegui tirar aquele semblante triste de seu rosto e no lugar disso, muitas gargalhadas e sorrisos, a noite foi perfeita, chegando a hora de sair, ela me fez uma proposta indecorosa, disse que não estava afim de voltar pro hospital e perguntou se eu não queria ir pra um motel, fiquei pasmo, sem reação, mas, aceitei.

Ao chegar ao motel, Ana disse que não teria vergonha de mim, porque eu estava na mesma situação dela, no hospital eles nos ensinaram a fazer cateterismo vesical, que é retirar o xixi da bexiga através de uma sonda e um saco coletor, pra nos livrar daquele saco horrível pendurado na cadeira, Ana entrou no banheiro e foi fazer o CAT que é a abreviação de cateterismo, depois foi no rumo da hidromassagem e começou a tirar a roupa, eu então foi ao banheiro fazer o meu CAT.

Quando sai do banheiro me deparei com uma cena que jamais vou esquecer, Ana na hidro com uma garrafa de champanhe aberta, brincando com as espumas feliz da vida, parecia uma criança no playground, comecei a tirar minha roupa e depois entrei na hidro junto com Ana, fiquei meio envergonhado, porque mal nos conhecíamos e já estávamos ali, em um motel, pelados na hidromassagem, dei uns goles no champanhe e ficamos ali, sorrindo.

Começamos a nos beijar e acariciar, a coisa foi ficando séria e eu ficando nervoso, me perguntando como seria, me dava calafrios só em pensar, estar em uma hidro de um motel, depois de tudo o que aconteceu comigo, era tudo o que eu menos imaginava, a coisa foi ficando quente, aquela água tinha alguma coisa que me deixava cada vez mais excitado, minha mão corria pelo corpo dela e eu realmente não sei como iria acontecer, fui me lembrando aos poucos o que a sexóloga tinha nos dito no hospital e comecei a colocar em prática.

Continua...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Conto 0003 O parto

Olá meu nome é João, como me tornei cadeirante? Pasmem logo ao nascer!

Minha mãe era atendida pelo programa de saúde pública para grávidas, nossa família não tem posses, atualmente moramos em uma casa que meu pai invadiu logo após meu nascimento, hoje somos regularizados. O sistema de saúde prega que o parto normal é o melhor tanto pro filho quanto pra mãe, no meu caso isso não aconteceu.

Aos noves meses de gravidez, minha mãe começou a entrar em trabalho de parto, eu era um feto sadio, com todo o pré-natal feito na hora certa, ao chegar ao hospital começou a via crucis de minha mãe e meu pai, eles disseram que não tinham leitos e que minha mãe deveria esperar, o erro começa ai, como esperar estando em trabalho de parto?

Meu pai ficou muito nervoso, gritou, brigou com os funcionários e de nada adiantou, minha mãe urrava de dor, não conseguia ficar sentada porque doía muito, então ficava andando de um lado pro outro do corredor, a bolsa rompeu e mesmo assim, não foi feito nada, meu pai estava tão nervoso que começou a ameaçar os funcionários, eles chamaram a polícia, quando a polícia chegou, minha mãe que já estava nervosa, ficou mais ainda.

Quando eles se aproximaram do meu pai, minha mãe gritou que eu estava nascendo, nesse momento eu já estava no canal vaginal de minha mãe, quando os policiais viram aquilo, em vez de prenderem meu pai, disseram que seriam testemunhas de homicídio doloso, caso minha mãe e eu morrêssemos e eles não fizessem nada, os próprios policiais ficaram indignados com a situação.

Depois de 15 minutos naquele desespero os próprios policiais foram atrás dos médicos, encontraram um deles na sala de descanso, assistindo televisão, fazendo um lanche, pegaram o médico pelo braço e levaram até minha mãe, finalmente eu iria nascer, quando meu parto foi realizado, já era tarde demais, devido à demora ocorrida entre o atendimento e o parto eu já estava com lesão cerebral, devido à falta de oxigenação do cérebro.

Isso me tornou um bebê por muitos anos, as lesões em meu cérebro afetaram minha coordenação motora, eu mal conseguia mexer meus braços, e um pouco minhas pequenas e delicadas mãos, os policiais que assistiram o parto e toda a confusão no hospital, ficaram revoltados com o acontecido, iam me visitar de vez em quando, levavam presentes, fraudas e insistiam para meu pai denunciar o ocorrido e processar a maternidade e os profissionais responsáveis, só que meu pai tinha medo de retaliação por parte deles.

Mesmo os policiais dizendo que testemunhariam ao seu favor, dizendo que os ajudariam, nem meu pai nem minha mãe tiveram coragem, o tempo foi passando e eu fui crescendo, os outros bebês já tinha começado a andar, eu não conseguia mexer minhas pernas, ficava no berço e quando íamos pra rua, eu sempre ia ao colo, porque minha família não tinha dinheiro para comprar um carrinho.

Minha mãe me levava de médico em médico buscando tratamento, mas, como não tínhamos dinheiro, esse tratamento ficaria muito difícil, o sistema de saúde não tinha um diagnóstico sobre meu caso e isso dificultava o tratamento, que cada dia devido ao atraso piorava e atrofiava mais meu organismo, alguns dos danos já eram irreversíveis.

Eu cresci tanto que minha mãe já não conseguia mais me carregar ao colo, então comecei a ficar cada vez mais dentro de minha casa, deitado em minha cama, as amigas de minha mãe traziam seus filhos, eles andavam e eu não, comecei a perceber que eu era diferente, eu pensava que começaria a andar depois de velho, que as crianças não andavam, ou só começavam a andar depois de certa idade.

Me pai começou sendo vigia de uma residência, gostou da profissão e seu patrão como estava cada vês mais rico, começou a pagar cursos pro meu pai se especializar, depois de vários cursos de segurança, virou segurança particular de seu patrão, meu pai então no natal, me deu o melhor presente de toda a minha vida, uma cadeira de rodas, finalmente eu estaria liberto e sairia de casa!

Logo no primeiro final de semana eles me levaram a um parque, eu vi os pássaros que eu até então só ouvia seus cantos, as árvores que eu só via em livros de contos infantis que minha mãe me mostrava, aquele foi o melhor natal de toda a minha vida, o natal da liberdade, pra minha mãe, meu pai deu uma televisão, até então não tínhamos em casa e conheci outro mundo, o mundo da televisão.

Eu procurava pessoas como eu na televisão e não encontrava, me sentia o único cadeirante do mundo, o tempo foi passando, eu logo estava na idade de estudar, então minha mãe procurou, procurou e não tinham escolas com acessibilidade pra me atender, minha mãe estava entrando em desespero, quando foi informada de uma escola só de crianças especiais como eu, ela pegou o endereço e fomos pra escola.

Chegando lá fiquei surpreso, existiam mais pessoas como eu, nunca tinha visto tantas crianças como eu, achei aquele lugar o paraíso, o único problema é que a escola era muito longe de casa, mesmo assim, minha mãe estava decidida a me matricular na escola, nem que nós saíssemos muito mais cedo de casa pra chegar lá na hora do inicio das aulas.

Eu estava ansioso pro meu primeiro dia de aula, quando cheguei na escola uma professora nos recebeu, eu me despedi de minha mãe e a professora saiu me mostrando a escola, era um lugar lindo, cheio de pinturas nas paredes, a professora disse que foram os próprios alunos da escola que fizeram as pinturas, pensei que um dia uma pintura minha poderia estar ali, chegamos na sala de aula.

Fui apresentado a todos os outros alunos, existiam alunos de todos os tipos e uma coisa em comum, todos eram pessoa com deficiência, descobri que não existia só meu tipo de deficiência, conheci cada um deles e fiquei maravilhado, naquela escola eu me sentia mais em casa do que em minha própria casa, a aula começou e tivemos várias atividades, o dia passou tão rápido que nem percebi as horas passando.

Voltei pra casa contando tudo o que havia acontecido pra minha mãe e ela começou a chorar e eu perguntando por que ela chorava? Ela me disse que era de felicidade, porque estava me vendo feliz em empolgado daquele jeito, que meu pai não acreditou quando ela contou que havia encontrado uma escola adaptada, ao chegar em casa comecei a contar tudo pro meu pai, que sorria e me jogava pra cima de alegria...
Continua...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Conto 0002 A Lady


Olá, meu nome é Maria, como me tornei cadeirante? Contarei a seguir...
Um belo dia estava me arrumando pra sair, era formatura de um grupo de amigos da faculdade, tomei meu banho, sequei os cabelos, comecei a me maquiar, o vestido era aquele longo clássico, vermelho, eu queria ir arrasando praquela formatura!  Coloquei meu salto e segui rumo a escada, minha casa era de dois andares, morava com meu pai, quando coloquei o primeiro pé no degrau, o salto quebrou, eu me vi rolando escada abaixo e de repente tudo apagou.

Quando acordei estava em uma sala branca, haviam tubos enfiados em mim, tentei mexer o pescoço e não consegui, parece que estava amarrado, tentei mexer as pernas, os braços e nada, não conseguia, sentia meu corpo em uma espécie de anestesia total, é muito difícil expressar em palavras o que é esse sentimento de impotência, com os tubos enfiados em meu pescoço eu não conseguia falar, gritar, eu queria me expressar, porém, não sabia como.

Passou algum tempo, não sei dizer quanto tempo foi aquele momento, só sei que foi um dos piores espaços de tempo em minha vida, em fim chegou uma enfermeira, ao entrar no quarto e me ver acordada, me disse pra ficar calma, que ela ia chamar o médico e tudo ficaria bem. Então entrou aquela multidão de pessoas no quarto, eu perguntei ao médico porque eu não conseguia sentir nada, o que estava acontecendo?

Ele pediu calma e disse as enfermeiras pra começar a tirar os tubos e fazer a assepsia, depois perguntei novamente, só que dessa vez eu consegui ouvir minha voz, rouca, meio falha, mas tinha conseguido dizer alguma coisa, ele me disse que caí da escada, rolei ela abaixo porque meu salto havia quebrado, isso eu lembrava, agora vem a parte ruim, ele disse que eu quebrei meu pescoço, que teria ficado tetraplégica e viveria a vida toda em uma cadeira de rodas.

Eu comecei a gritar, pedi que chamassem meus pais, que aquilo era mentira, eu não acreditava naquilo, o ar foi faltando, eu tentava respirar e não conseguia, tudo apagou de novo... Não sei quanto tempo passou, mas, acordei mais uma vez com aqueles malditos tubos enfiados em mim, eu pesava que aquilo fosse um pesadelo, mas, a realidade é que era forte demais e eu não queria aceitar aquilo, totalmente repugnante.

Mais uma vez a enfermeira entrou me viu e chamou os outros, o médico perguntou se eu estava mais calma, pisquei os olhos, era a única forma de me comunicar, então os tubos foram tirados novamente e a assepsia feita novamente, procurei manter a calma, perguntei a quanto tempo estava naquele lugar, a resposta me fez ficar nervosa mais uma vez, há 1 mês eu estava em coma, tive várias paradas cardíacas e respiratórias, o médico disse que se eu acreditasse em Deus, que tinha sido ele que me manteve viva.

Pouco tempo depois entraram meu pai e minha mãe, eles me abraçaram e finalmente eu senti algo, minha mãe tocou meu rosto e eu senti o calor de suas mãos, aquilo era tão confortante, pela primeira vez me senti segura ali, com meu pai e minha mãe, eles disseram que meus amigos e a nossa família fizeram uma enorme corrente de oração, minha mãe todos os dias lia os recados de minha rede social, centenas de amigos mandando mensagens de fé e esperança.

Finalmente soltaram meu pescoço de um tal tracionador,  disseram que era pra ver se meu pescoço voltava ao normal e minha medula descomprimia, eu não entendia nada do que eles estavam falando, eu era aluna do ultimo ano do curso de design de moda, eu entendia de moda e não de medicina essas coisas, perguntei ao médico se eu realmente ia passar a vida toda na cadeira de rodas, ele me pediu calma, com um tempo as respostas viriam.

Que tempo, já havia perdido 1 mês de minha preciosa vida em coma, e o médico me pedindo pra ter calma, dava nos nervos, mas, como eu não queria pagar de novo estava me esforçando pra me controlar, meus pais me trouxeram o notebook, mesmo sem eu conseguir mexer se quer os braços, eles me mostravam os recados da minha rede social e meu e-mail, me colocavam pra conversar com meus amigos por vídeo-chamada, pelo menos eu ocupava minha mente.

A cena era horrível, estava deitada em cima de um colchão de ar, eles diziam que era pra não me dar escara, feridas na pele por ficar deitada muito tempo, quando me colocaram pra sentar a primeira vez, vi o resto do meu corpo, tinha um cano de plástico chamado sonda, saia de minhas genitais e ia até um saco, onde ficava cheio de xixi, eu estava usando fraudas, meu Deus, logo eu que gostava de um bom conjunto de calcinha e sutiã, aquilo era o fim.

Pedi pra minha mãe entrar na internet e buscarmos informações sobre meu estado, o que lia era como um duelo entre forças, de um lado estórias de superação e recuperação, do outro histórias terríveis das piores possíveis, que fariam filme de terror ser história em quadrinhos, fiquei muito preocupada, pois realmente não sabia como seria meu futuro, eu simplesmente estava sem perspectivas, no passado toda uma vida, vivida intensamente, no futuro uma grande interrogação.

O tempo foi passando, a pior hora era a hora do banho, eu tomava banho na cama, com umas esponjas só removendo o que dava com um pouco de sabão e água, meus cabelos que eram lindos, todos bem cuidados, estavam parecendo uma arapuca armada, eu me sentia uma xexelenta horrível, no que eu me tornara, um farrapo humano, eu tinha tantos planos em minha vida, menos esse, de me tornar quem eu me tornei.

Pensava comigo mesmo, porque eu? Porque isso aconteceu comigo? O que eu fiz pra merecer isso? E infelizmente não encontrava resposta, os dias foram passando e aquilo tudo foi se transformando em uma masmorra pra mim, minha pele agora era de uma cor branca reluzente, a luz do sol que tomava em abundancia, agora não tocava minha pele como tocara no passado, quando íamos para a praia, será que um dia eu irei a praia novamente? E como irei entrar no mar com essa fralda ridícula, quanto mais penso nisso mais tudo me transtorna.

Finalmente chegou o dia da alforria, o médico me deu alta e em fim pude ir pra minha casa, já estava há dois meses no hospital, tive que ir pra casa de ambulância por recomendação médica, meus pais já haviam montado um hospital dentro da minha casa, eu iludida pensando que ia finalmente dormir em minha cama, me deparo com uma cama de hospital, o pior não foi isso, os quartos da casa são no andar de cima, tiveram de me subir pela mesma escada que caí, eu me controlei pra não chorar, mas, ao entrar em meu quarto, não segurei a emoção, chorei bastante.

Fiquei ali, olhando detalhadamente meu quarto, lembranças vindo em minha mente, pedi aos meus pais pra ficar um momento ali sozinha, lembrando de tudo o que já vivi, mil perguntas em minha mente e como o médico disse: Só o tempo lhe trará as respostas. Espero que elas sejam boas...
Continua...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Conto 0001 O Motoboy


Meu nome é José, sou motoboy e passava o dia todo entregando aqui e ali, rodeando uma das maiores metrópoles do planeta, infringindo todas as leis de trânsito previstas, era ateu, até o dia que eu invadi meu ultimo sinal vermelho, o vermelho sangue logo borrou a tela do meu capacete, me vi voando e logo depois caí no chão, escutei vários ossos quebrando e como um estalo eu estava ali, olhando pro meu corpo jazido no chão.

Pensei então que poderia estar morto, como eu estaria em pé e ver meu corpo todo sujo de sangue e jazido ali no chão? No mesmo momento veio em meu pensamento meus pais, a briga que tive com eles quando comprei a moto, eu até saí de casa por causa da moto e o meu primeiro emprego foi o de entregador, o famoso motoboy, que naquele momento, perdeu seu brilho ao ver meu corpo ali, sem vida.

Nesse momento parecerem os paramédicos em uma ambulância, começaram a fazer massagem em meu peito, e como um choque, eu apaguei, ao acordar estava com tubos enfiados em meus braços, na minha traqueia e em meu pênis, então me lembrei da cena, meu corpo no chão e acordar naquele lugar, me perguntei: Será que eu morri?

Nisso entra a primeira enfermeira em meu quarto, ao me ver acordado dá meia volta imediatamente, quando retornou com um grupo de outros, médicos, enfermeiros, me deram as boas vindas, disseram que eu havia sofrido o acidente, quebrado a coluna e nunca mais voltaria a andar, fiquei muito nervoso os batimentos aceleraram e eles tiveram de me sedar, pois em minha condição eu poderia ter um ataque cardíaco.

Ao acordar pela segunda vez, esta sem o tubo em meu pescoço e não mais na UTI, vi meu ai e minha mãe deitados espremidos no sofá cama do quarto do hospital, eu os chamei, pai e mãe acordem!

<João o pai> Meu filho, tanto que lhe pedimos pra não comprar essa moto, porque você ignorou, porqueeeeeeeeeeeeeee???
<Maria a mãe> Calma José seu pai está muito nervoso, você está bem?
<José> Como bem mãe? Estou com esse buraco em meu pescoço que está doendo, tenho agulhas em meu braço e esse tubo ridículo saindo do meu pênis e pra completar, estou usando fraudas! Como me sentir bem? Como?
<João> Não se preocupe meu filho, nós daremos um jeito nisso!
<José> Pai isso não é seu mundo, onde pode-se comprar as coisas, eu estou paraplégico pro resto da vida! Como resolver isso?
<Maria> Calma José, seu pai quis dizer que vamos tentar de tudo pra você voltar ao normal, é isso que ele quis dizer!
Logo o médico entrou na sala e minhas perguntas começaram:
<José> Doutor, não sinto minhas pernas, não sinto da cintura pra baixo, além do mais estou com esse cano enfiado em meu pênis e essa fralda, isso é ultrajante! Quando isso vai passar?
<Médico> José, isso é permanente, sua medula foi seccionada a nível de T12, então você nunca mais andará, esses canos são sondas uretrais usadas pra que você faça xixi, já que seu esfíncter da bexiga não funciona mais e a frauda é pra no caso de você evacuar!
<José> Doutor, eu não acredito nisso, isso não é possível, vou passar o resto de minha vida com fraudas e essa tal sonda enfiada no meu pinto?
<Médico> José, essa é a realidade, não posso enganar você!
<José> Nãooooooo saia daqui eu não acredito em você, você está mentindo!!! Nãaaaaaaaaao!!!

Fiquei por horas ali, repetindo que eu não acreditava, os dias passaram e vieram as primeiras evacuações, eu me sentia um bebê de fraudas aquilo era a pior coisa que já tinha visto em minha vida.

Depois de 15 dias internado tive alta, o pior de tudo foi saber que meu pai já havia desmontado meu apartamento, vendido tudo e entregue pro seu dono, visto que o prédio só tinha escadas, ali não poderia morar.

Eu estava deveras preocupado em voltar pra casa, meu pai tendia a ser autoritário e falso-moralista e eu não aguentava calado, minha mãe sempre submissa a tudo o que ele mandava e eu o mesmo rebelde de sempre. Tivemos que contar com a ajuda de vizinhos para sair do carro, eu me sentia um saco de esterco sendo carregado de um lado pro outro, sem nada poder fazer.

Minha vida agora se tornara o inferno na terra, com aquela coisa enfiada em meu pinto, junto com o saco de xixi, tinha um tom no mínimo repugnante! O pior de tudo era minha mãe ter que limpar minha bunda, quando eu era criança tudo bem, mas, agora na idade que estou? Não consigo nem virar pra limpar a bunda sem urrar de dor, não consigo me sentar porque dói demais, estou frustrado com todas essas limitações.

Meus amigos, aqueles que moravam em minha casa, praticamente sumiram, eu não recebia nem ligações em meu telefone, que era como o de uma delegacia, sempre tocando, baladas aqui e ali, minha namorada sumiu sem deixar recados, logo ela que dizia que me amava, que eu era o homem de sua vida, eu tentei ligar diversas vezes, primeiro ela não atendia, depois o telefone ficava direto na caixa de mensagens, acho que ela deve ter trocado o numero, pra que eu o saco de esterco não a incomodasse mais.

Pedi meu pai pra me dar um computador, eu nem sabia usar, nunca gostei dessas coisas de nerd, mas, deitado naquela cama, já havia enjoado de ver todos os filmes, todas as novelas, eu precisava saber qual era minha real condição e o que eu poderia fazer pra melhora-la. Ao começar a usar a internet descobri dois novos  nomes que me designavam:
Lesionado medular e cadeirante.

Em todo lugar da internet que eu acessava pessoas falando de uma tal rede social, fiz meu cadastro nela e conheci centenas de pessoas com o mesmo quadro clinico e comecei a trocar ideias com eles. Nesse momento descobri que não era o único, que haviam milhares de pessoas em minha situação, quiçá milhões, eles foram me dando várias dicas do que fazer, uma coisa que eles deixaram bem clara, é que eu tinha de fazer reabilitação.

Continua...