Iaê
trutas! Meu nome na quebrada é Johnny, moro em uma comunidade do Rio de
Janeiro, eu fiquei aleijado depois de um alemão acabar com minha brincadeira,
eu nasci na comunidade, morava em um barraco com meus pais que são alcoólatras
e me batiam todo dia e com meu tio que me estuprava desde os meus dez anos de
idade, aos treze decidi sair desse inferno e morar na rua, que eu acreditava
ser mais seguro que minha casa, pelo menos ninguém ia me bater ou me estuprar.
Comecei praticando
delitos leves, roubava as correntes de ouro das madames em Copacabana, relógios
do bacanas, aos poucos fui me fazendo no mundo do crime, aos dezesseis anos já
era ladrão profissional e maquinado, com minha pistola automática, aquelas
lembranças do meu passado viviam em minha mente, decidi então voltar pra
comunidade e acertar as contas com meus pais e meu tio tarado.
Chegando
no morro fui direto ao meu barraco, quando saquei a arma pra derrubar a porta,
um cara gritou:
<Estranho>
Aí maluco tu pensa que vai fazer o quê em nossa comunidade?
<Eu>
Vim acertar as contas com meus pais que me batiam quando eu era criança e meu
tio que me estuprava! (Tive de responder a ele, pois os quatro do bando estavam
armados com fuzis, eu não teria como me defender e seria morto por eles, por
isso joguei a real)
<Estranho>
Aí pessoal o que eu faço com esse comédia? Chega no nosso setor intimando de
chacina, não posso negar que ele é da cor e tem estilo, matamos ele ou damos a
escolha?
Os outros
três disseram pra dar a tal escolha, que eu realmente estava com medo do que
seria.
<Eu>
Cara não me matem eu trabalho pra vocês!
<Estranho>
Qual seu nome comédia?
<Eu>
Meu nome é Johnny!
<Estranho>
Olhai o cara tem nome de gringo! Ai Johnny meu nome é Carlos, sou eu quem manda
na boca desse setor, sou o gerente, a escolha que lhe damos é ser nosso
soldado, nós pagamos cinqüenta real por dia, ou isso ou a morte, o que você
escolhe?
<Eu>
Claro que aceito! O que eu tenho que fazer?
<Carlos>
Você irá ficar aqui com esse fuzil, se o comédia dos alemão entrar aqui, tu
senta fogo neles ta ligado?
<Eu>
Claro Carlos de boa, já saquei qual é o esquema, mas me diz uma coisa e meus
pais e meus tios? Eu quero passar fogo neles!
<Carlos>
Aí truta, depois matamos eles um por um pra não levantar suspeita, fazemos
microondas neles e nunca acharão os corpos belê?
<Eu>
Na hora mano, botei fé em vocês! Já estou me sentindo em casa!
<Carlos>
Aí tu usa algum bagulho?
<Eu>
Po eu curto uma erva!
<Carlos>
Aí zezão rola uma frente pro mano trabalhar de boa ai!
<Zezão>
Na hora chefe, pegai truta!
Nossa eu
adorei aquela turma, nós éramos os donos do morro, com o arrego do tráfico os
alemão subiam o morro, mas era pra pegar nossa grana e vender fuzil, eles nunca
bateram de frente com a gente, nós tínhamos uma vida de rei, casa com piscina,
as vagaba rolavam direto na fita, muito trampo, mas na hora da folga era aquela
curtição!
O inferno
começou naquele fatídico dia, quando a tropa de elite dos alemão subiram o
morro, eu nunca tinha visto de perto um caveirão e no primeiro dia que ele
subiu em nossa comunidade deu em merda, nessa época eu já não era soldado, era
o gerente da boca, os soldados foram quase todos mortos, eu então sai pelos
becos tentando fugir dos alemão, já tinha corrido um monte pra longe dos tiros.
Certo
momento eu escutei aquele estalo em minhas costas, foi um tiro, eu caí no chão
sem conseguir mexer minhas pernas, então do meio da escuridão saiu aquele homem
de preto com a cara pintada e disse:
<Alemão>
Aí seu verme, eu atirei bem na sua coluna, não vamos te prender, pelo contrário,
vou chamar a ambulância e dizer que tu era um morador atingido, porque farei
isso? Porque quero acompanhar de perto sua vida, que agora será em uma cadeira
de rodas, pro resto de sua vida, seu traficante de merda!
Eu fiquei
ali de cara pro chão, sem conseguir me mexer, durante alguns minutos o filme da
minha vida passou pelos meus olhos, eu me vi criança jogando bola nos becos da
comunidade, o tempo que passei na rua, todas aquelas farras que fizemos
enquanto eu crescia no tráfico, de soldado até me tornar o gerente da boca,
depois disso ouvi a ambulância chegando e eu sendo amarrado na maca e colocado
dentro, então desmaiei.
Quando
acordei estava cheio de tubos enfiados em minha boca e nariz, tentei me
levantar, mas estranhamente não consegui, parece que todo o meu corpo estava
anestesiado e eu não sabia por que, tentei levantar o pescoço e consegui, olhei
pro meu corpo e praquela sala branca, me perguntando se eu estava vivo ou
morto, já não sabia mais se aquilo era real, depois de certo tempo uma enfermeira
entrou me viu acordado e saiu do quarto.
Pouco
tempo depois entraram de novo a enfermeira acompanhada de outros enfermeiros e
médicos, eles começaram a tirar os tubos da minha boca e nariz, eu comecei a
sufocar eu tentava respirar e não conseguia, era como se meu pulmão não
estivesse funcionando, eles disseram pra eu ter calma e começar a respirar
devagar, colocando força pra respirar mesmo, eu não entendia porque não
conseguia respirar.
Foi
quando o médico me disse:
<Médico> No começo será difícil respirar mesmo, afinal você passou um mês em coma, teve complicações na cirurgia, pegou infecção nos ossos da coluna e na medula espinhal, a infecção também afetou bastante seus pulmões, que por estarem com os tubos de respiração, perderam boa parte da capacidade de respirar, sua condição atual agora é de tetraplegia, ou seja, você não meche nada do pescoço pra baixo, você tem alguma duvida?
<Médico> No começo será difícil respirar mesmo, afinal você passou um mês em coma, teve complicações na cirurgia, pegou infecção nos ossos da coluna e na medula espinhal, a infecção também afetou bastante seus pulmões, que por estarem com os tubos de respiração, perderam boa parte da capacidade de respirar, sua condição atual agora é de tetraplegia, ou seja, você não meche nada do pescoço pra baixo, você tem alguma duvida?
De
repente a voz do médico ficou cada vez mais longe e minha visão foi perdendo o
foco, pouco tempo depois, apaguei...
Continua...