quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Conto 0020 O motoboy 7.0

João e Lorena saíram da pista e seguiram pra perto do bar, Lorena ficou revoltada porque estava muito lotado e o pessoal não saía da frente, pediu pra João se segurar na cadeira que ela sairia batendo em todo mundo na frente, João sorriu e disse pra ela seguir em frente, Lorena saiu gritando: “Sai da frente! Sai da Frente!” João apenas sorria da situação.

Quando eles chegaram ao bar, João não conseguia pedir a bebida porque o balcão da balada era muito grande, Lorena perguntou o que ele beberia e ele disse que era um Whisky e energético, ela pediu a mesma coisa, João disse pra ela que ficaria no canto do balcão e pediu que ela levasse o drink dele.

<Lorena> Nossa que droga, como é que eu nunca tinha pensado como a vida de vocês é difícil né?
<João> Olha na verdade eu estou me adaptando ainda, algumas pessoas falam de Curitiba, que é a capital brasileira com maior acessibilidade, estou pensando em passar lá!
<Lorena> João eu passei férias em Curitiba e pelo que você me conta é assim mesmo! Agora que eu estou recordando, tem estações tubo com elevador, rampa nas esquinas das calçadas, até os parques são acessíveis!
<João> Todos dizem isso, estou seriamente pensando em passar uns dias por lá e ver como é!

<Lorena> Eu quero ir com você, conheço os pontos turísticos, seria inesquecível!
<João> Lorena você me conheceu hoje, não sabe como minha vida é um inferno, hoje eu estou internado em um hospital de reabilitação e não está sendo nada fácil me readaptar a essa realidade;
<Lorena> João você está vivo! Quando eu te vi dançando, parecia que você não estava aqui, com os olhos fechados, sentindo a musica, alguma coisa me empurrava pra você e eu nem me importei se você era cadeirante ou não!
<João> Lorena não é apenas questão de acessibilidade, existem coisas que eu faço, que nem sei como te explicar, bem, é sobre o funcionamento dos meus órgãos...

<Lorena> João pare! Vamos fazer o seguinte, uma coisa de cada vez, um dia de cada vez, eu moro aqui, quanto tempo você ficará internado?
<João> De dois a três meses, foi o que me disseram;
<Lorena> Então teremos muito tempo pela frente, vamos terminar essas doses e voltar a pista, aproveitemos a noite, quero conhecer seus amigos, depois você me conta todas as outras coisas que quer me contar certo?
<João> Lorena você não entende, eu não sou igual aos outros homens, quer dizer, bem...

<Lorena> João eu estava 3 anos sem ninguém, meu ultimo namorado me fez sofrer muito, me batia, xingava, tudo quanto é coisa ruim ele fez comigo, mas, quando te vi aqui, foi inexplicável o que senti, simplesmente, decidi te conhecer e não me importo com essas coisas que você deve está se importando, vamos devagar certo?
<João> Tem certeza que isso não é um sonho?
Lorena deu um beijo carinhoso e demorado em João, passou a mão em seu rosto, e disse:
<Lorena> Se isso é um sonho João, eu não quero acordar! Agora vamos dançar ok?
Lorena e João voltaram à pista de dança, encontraram com Francisco e Carol e começaram a dançar, todos sorrindo e felizes!


Continua...

sábado, 22 de junho de 2013

Conto 0019 Policia e bandido 2.0 lado B


 
Iaê trutas! Meu nome na quebrada é Johnny, moro em uma comunidade do Rio de Janeiro, eu fiquei aleijado depois de um alemão acabar com minha brincadeira, eu nasci na comunidade, morava em um barraco com meus pais que são alcoólatras e me batiam todo dia e com meu tio que me estuprava desde os meus dez anos de idade, aos treze decidi sair desse inferno e morar na rua, que eu acreditava ser mais seguro que minha casa, pelo menos ninguém ia me bater ou me estuprar.

Comecei praticando delitos leves, roubava as correntes de ouro das madames em Copacabana, relógios do bacanas, aos poucos fui me fazendo no mundo do crime, aos dezesseis anos já era ladrão profissional e maquinado, com minha pistola automática, aquelas lembranças do meu passado viviam em minha mente, decidi então voltar pra comunidade e acertar as contas com meus pais e meu tio tarado.

Chegando no morro fui direto ao meu barraco, quando saquei a arma pra derrubar a porta, um cara gritou:

<Estranho> Aí maluco tu pensa que vai fazer o quê em nossa comunidade?
<Eu> Vim acertar as contas com meus pais que me batiam quando eu era criança e meu tio que me estuprava! (Tive de responder a ele, pois os quatro do bando estavam armados com fuzis, eu não teria como me defender e seria morto por eles, por isso joguei a real)
<Estranho> Aí pessoal o que eu faço com esse comédia? Chega no nosso setor intimando de chacina, não posso negar que ele é da cor e tem estilo, matamos ele ou damos a escolha?

Os outros três disseram pra dar a tal escolha, que eu realmente estava com medo do que seria.
<Eu> Cara não me matem eu trabalho pra vocês!
<Estranho> Qual seu nome comédia?
<Eu> Meu nome é Johnny!
<Estranho> Olhai o cara tem nome de gringo! Ai Johnny meu nome é Carlos, sou eu quem manda na boca desse setor, sou o gerente, a escolha que lhe damos é ser nosso soldado, nós pagamos cinqüenta real por dia, ou isso ou a morte, o que você escolhe?

<Eu> Claro que aceito! O que eu tenho que fazer?
<Carlos> Você irá ficar aqui com esse fuzil, se o comédia dos alemão entrar aqui, tu senta fogo neles ta ligado?
<Eu> Claro Carlos de boa, já saquei qual é o esquema, mas me diz uma coisa e meus pais e meus tios? Eu quero passar fogo neles!
<Carlos> Aí truta, depois matamos eles um por um pra não levantar suspeita, fazemos microondas neles e nunca acharão os corpos belê?

<Eu> Na hora mano, botei fé em vocês! Já estou me sentindo em casa!
<Carlos> Aí tu usa algum bagulho?
<Eu> Po eu curto uma erva!
<Carlos> Aí zezão rola uma frente pro mano trabalhar de boa ai!
<Zezão> Na hora chefe, pegai truta!

Nossa eu adorei aquela turma, nós éramos os donos do morro, com o arrego do tráfico os alemão subiam o morro, mas era pra pegar nossa grana e vender fuzil, eles nunca bateram de frente com a gente, nós tínhamos uma vida de rei, casa com piscina, as vagaba rolavam direto na fita, muito trampo, mas na hora da folga era aquela curtição!

O inferno começou naquele fatídico dia, quando a tropa de elite dos alemão subiram o morro, eu nunca tinha visto de perto um caveirão e no primeiro dia que ele subiu em nossa comunidade deu em merda, nessa época eu já não era soldado, era o gerente da boca, os soldados foram quase todos mortos, eu então sai pelos becos tentando fugir dos alemão, já tinha corrido um monte pra longe dos tiros.

Certo momento eu escutei aquele estalo em minhas costas, foi um tiro, eu caí no chão sem conseguir mexer minhas pernas, então do meio da escuridão saiu aquele homem de preto com a cara pintada e disse:

<Alemão> Aí seu verme, eu atirei bem na sua coluna, não vamos te prender, pelo contrário, vou chamar a ambulância e dizer que tu era um morador atingido, porque farei isso? Porque quero acompanhar de perto sua vida, que agora será em uma cadeira de rodas, pro resto de sua vida, seu traficante de merda!

Eu fiquei ali de cara pro chão, sem conseguir me mexer, durante alguns minutos o filme da minha vida passou pelos meus olhos, eu me vi criança jogando bola nos becos da comunidade, o tempo que passei na rua, todas aquelas farras que fizemos enquanto eu crescia no tráfico, de soldado até me tornar o gerente da boca, depois disso ouvi a ambulância chegando e eu sendo amarrado na maca e colocado dentro, então desmaiei.

Quando acordei estava cheio de tubos enfiados em minha boca e nariz, tentei me levantar, mas estranhamente não consegui, parece que todo o meu corpo estava anestesiado e eu não sabia por que, tentei levantar o pescoço e consegui, olhei pro meu corpo e praquela sala branca, me perguntando se eu estava vivo ou morto, já não sabia mais se aquilo era real, depois de certo tempo uma enfermeira entrou me viu acordado e saiu do quarto.

Pouco tempo depois entraram de novo a enfermeira acompanhada de outros enfermeiros e médicos, eles começaram a tirar os tubos da minha boca e nariz, eu comecei a sufocar eu tentava respirar e não conseguia, era como se meu pulmão não estivesse funcionando, eles disseram pra eu ter calma e começar a respirar devagar, colocando força pra respirar mesmo, eu não entendia porque não conseguia respirar.

Foi quando o médico me disse:
<Médico> No começo será difícil respirar mesmo, afinal você passou um mês em coma, teve complicações na cirurgia, pegou infecção nos ossos da coluna e na medula espinhal, a infecção também afetou bastante seus pulmões, que por estarem com os tubos de respiração, perderam boa parte da capacidade de respirar, sua condição atual agora é de tetraplegia, ou seja, você não meche nada do pescoço pra baixo, você tem alguma duvida?

De repente a voz do médico ficou cada vez mais longe e minha visão foi perdendo o foco, pouco tempo depois, apaguei...

Continua...

sábado, 11 de maio de 2013

Conto 0018 Policia e Bandido



Meu nome é Manoel sou policial militar no Rio de Janeiro, certo dia estávamos entrando na comunidade com um dos vários helicópteros de segurança do Estado, eu estava derrubando os meliantes na mira de uma .50 Sniper afixada na aeronave, choviam projéteis de AK-47 eu já havia derrubado uma dezena deles, sou campeão de tiro pan-americano, mirei derrubei, a emoção de voar e atirar é uma coisa que não é pra todos, além da coordenação motora, temos as rajadas de ventos e manobras evasivas, tentando fugir da chuva de balas.

Determinado dia a aeronave deu um voo rasante, ao passar há poucos metros do chão, fui alvejado por um tiro de AK-47 e desmaiei. Acordei no hospital, com tubos enfiados em mim, na boca, nariz e nas partes intimas, pensei que havia sonhado, mas, o que acontecera fora verdade.

Primeiro eu tentei remover os cabos, não consegui, depois tentei mexer as pernas, nessa hora um arrepio me veio à coluna, só que eu senti ele até a metade da coluna e pensei que o pior teria acontecido, eu tinha ficado paraplégico.

Muitos foram os policiais que se feriram assim durante a vida e bandidos também, muitos deles eu mesmo fiz ficarem na cadeira de rodas, assinei assim meu carma, ficaria na cadeira de rodas, pagando pela minha dívida, por ter feito sofrer centenas de pessoas durante os 20 anos de guerra contra o tráfico.

Esperei algum tempo aparecer alguém, até que uma auxiliar de enfermagem entrou na UTI, a me ver acordado voltou e fechou a porta novamente, passou algum tempo e entraram a equipe de médicos e enfermeiros, começaram a tirar os tubos do meu nariz e boca, assim que pude comecei a falar.

<Eu> Eu estou paraplégico é isso?
<Médico> O senhor tem sorte de estar vivo! Levou um tiro de fuzil a queima roupa, perdeu um rim, parte do fígado, por sorte não perdeu um pulmão!
<Eu> Nossa! Tudo isso?
<Médico> O senhor tem noção de quantos dias estás em coma?
<Eu> Um dia?
<Medico> Na verdade hoje completam 45 dias!
<Eu> 45? Nossa! Como está minha família?
<Medico> Ainda não os avisamos, queríamos vê-lo primeiro, quer começar os testes de sensibilidade pra ver até onde foi o estrago em sua coluna?
<Eu> Sim claro, podemos começar então!

As noticias não foram boas, perdi sensibilidade da sétima vértebra torácica pra baixo, o médico disse que eu teria de me escrever em um programa de reabilitação em um hospital e começar a me adaptar a minha nova vida, de cadeirante.

Quando minha família chegou, junto com um grupo de amigos meus do comando da polícia, começaram a chorar, até meu coronel que era o cara mais durão que eu já tinha conhecido chorou, eu tentei tranquiliza-los dizendo que eu estava vivo e isso era o que importava! Mas não surtiu muito efeito, eles continuavam chorando.

Depois de uns dias no hospital, tive alta e a notícia que meu comandante tinha conseguido uma vaga no melhor hospital de reabilitação do país, eles me disseram que lá eu aprenderia a andar novamente, fiquei muito feliz com aquilo, passei a semana me preparando pra viagem, minha mãe insistiu em ir comigo, eu terminei cedendo, visto que mal conseguia limpar minha bunda direito.

Ao chegar no hospital fui atendido por uma excelente equipe de profissionais, eles me disseram que ia passar por exames, pedi pra eles que minha identidade de policial não fosse revelada, visto que poderia haver bandidos lá dentro e o médico confirmou que tinham bandidos lá também, fiquei receoso comigo mesmo, será que algum deles eu tinha colocado ali?

A semana toda foi de exames, enquanto isso fui conhecendo os outros pacientes, estava a passar pelo corredor em frente a uma maca, quando um dos pacientes me cuspiu, eu olhei e lá estava um cara deitado de bruços, perguntei a ele porque me cuspiu?

<Paciente> Seu policial FDP! Estou nessa cadeira de rodas por sua causa, você não lembra né? Mas eu lembro do seu rosto arrastando meu corpo pelo chão, não me basta ter me dado 6 tiros, fiquei mais de um ano internado no hospital penitenciário, me mandaram pra cadeia, fiquei 5 anos preso e ganhei essa maldita escara de brinde!

<Eu> Se isso fosse fora daqui, tu sabe que eu já teria te derrubado dessa cama né seu merda? Não fui eu que te coloquei ai, foi você que escolheu esse caminho, o do crime e claro, cruzou o meu de policial, que te acertei em cheio, você e dezenas de outros e não me arrependo!
<Paciente> Seu FDP eu que queria poder sentar pra ir ai quebrar sua cara, seu policial escroto!

No meio da discussão chegou o enfermeiro, junto com o segurança e pediu pra nos acalmarmos, o segurança saiu tocando minha cadeira dali e pedindo pra eu ter calma, porque aquele não era o único bandido que tinha ali dentro e que eu teria de ter muita calma com eles, estava vendo que minha estadia ali seria longa...

Continua...

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Hoje o blog passou de 1.000 visitas! Muito obrigado a todos vocês!


Em certa reunião de um grupo de amigos, me foi sugerido escrever um blog contando nossa história, visto que como vocês leram nesses últimos meses de publicação, existem muitas coisas intimas, cujas pessoas não tem coragem de postar, eles me incentivaram, disseram que eu sabia escrever, que já tinha escrito livros e porque não blogs?

Confesso que de blog mesmo eu não entendo muita coisa, visto que uso meus blogs com a interface que o próprio blog me dá, já me ofereceram pra mudar o layout, pra fazer site do blog, etc... Como o reabilitando a distância tem mais de 17.000 visualizações e até hoje está em seu formato original, penso que o que vale é o conteúdo do blog, prova essa que hoje chegamos as 1.000 visitas com a mesma cara.

Comecei a escrever as histórias que fui lembrando, de cada um de vocês amigos, como me pediram não coloquei vossos nomes e esse segredo levarei pro tumulo, agradeço o incentivo e confesso pra vocês, escrever é viciante! Muito obrigado aos que me incentivaram muito obrigado aos leitores e muito obrigado a vocês que compartilham nas redes sociais!

O blog foi feito pra vocês!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Conto 0017 O cadeirante psicótico 2.0


Estava eu voltando do clube de tiro, confesso que estava adorando aqueles treinos de tiro, já sabia operar carabinas e pistolas de pressão, agora passara a também operar armas de fogo e cada vez mais eu gostava daquilo, já não conseguia viver sem!

Fiz muitos amigos no clube de tiro, todos eles relatavam dia após dia, o acontecimento da violação de seus direitos, eu perguntava porque eles não faziam nada, por isso, por aquilo, em resumo, por preguiça e preconceito de ser taxado de chato, mas, deixar os outros tirarem sarro da cara deles pode! Era isso que eu não admitia.

Um belo dia estava voltando do clube de tiro e parei na frente da casa de um amigo pra lhe entregar algumas munições que ele havia pedido, estava eu montando a cadeira quando notei a aproximação de um meliante pela calçada, logo peguei uma pistola e coloquei em baixo da perna fingindo que não o estava vendo, ele chegou e me abordou:

<Meliante> Boa noite senhor! O senhor tem algum trocado que possa me dar?
<Eu> Não amigo estou sem dinheiro! (Realmente não tinha um centavo no bolso)
<Meliante> Podia te assaltar agora hein aleijadinho FDP!
<Eu> Ô cara tu já ouviu fala das olimpíadas, quem te a corrida?
<Meliante> Que corrida o que seu FDP tá me tirando?
<Eu> Não! Mas é o que você vai fazer agora! Corre!

Apontei a arma pra ele e ele saiu correndo feito um louco na rua, nunca imaginou que um cara em uma cadeira de rodas iria abordá-lo tão agressivamente daquela forma, tratei de olhar pros outros lados e ver se não havia mais algum, foi quando vi outros dois próximo da porta do passageiro do meu carro, parados, pareciam estátuas!
<Eu> Ei vocês dois ai, corram também se não passo fogo em vocês!

Quando eles saíram correndo, não me senti seguro naquela área, tratei de tirar o carro dali. Fiquei pensando comigo, nem as pessoas com deficiência os bandidos perdoam hoje, não fosse ter entrado na aula de tiro e estar armado, não quero nem pensar no que poderiam ter feito comigo, mas, eu continuo na ativa, armado e perigoso com os infratores.

Continua...

terça-feira, 23 de abril de 2013

Conto 0016 A Lady versão 4.0



Quando chega final de semana nesse hospital é um silêncio que não tem fim, os que podem saem, vão passear e só voltam no outro dia, alguns só voltam na segunda feira, eu queria sair, mas, dependo de minha mãe, que definitivamente não gosta de sair.

Eu vejo os paraplégicos reclamando, ora mais, do que eles reclamam? Ainda podem pelo menos tomar banho, tocar a cadeira sozinha, fazem o CAT e tudo e eu não mexo meus braços, meu sonho era ser pelo menos paraplégica, seria bem mais independente.

Esse final de semana foi um bafafá no hospital, um grupo de pacientes estavam combinando pra sair, como eu queria ir com eles, como eu queria sair, mesmo nessa cadeira de rodas, uma balada ia me ajudar bastante, beber, ouvir musica, quanta saudade eu tenho disso.

Na segunda eles voltaram e estavam correndo as informações da festa pelo corredor, aquilo parecia um reality show, nada passava em branco, sempre saia uma informação e corria como o vento, logo todos estavam sabendo, a balada deles foi um sucesso, confesso que fiquei com inveja.

Ana uma das meninas que foi pra balada ficava ao lado da minha cama da enfermaria, os olhos dela brilhavam quando ela chegou ao hospital, eu até tentei falar com ela, mais ela veio e foi tão rápido, nem deu tempo de perguntar alguma coisa.

Eu fiquei imaginando como seria sair, primeiro pensei como eu iria beber, como segurar um copo se meu braço mal se mexia, pelo menos a música, ver gente, fiquei por alguns minutos pensando como seria, então minha mãe me avisou que estava na hora da fisioterapia.

Quando cheguei na fisioterapia contei pro fisioterapeuta minhas intenções de sair, ele me disse que eu poderia sair, que não haveria motivo pra não sair, mas, precisava de ir com um acompanhante, isso era evidente, minha mãe? Descartada! Em vários anos com meu pai, eles pouco saíram.

Mas como eu iria? Essa pergunta ficou o dia todo em minha mente, quando a noite caiu e as atividades do hospital cessaram, eu pedi pra minha mãe me levar lá em baixo, mais uma vez ela disse que não estava afim, por isso, por aquilo, eu pedi pra ela pelo menos me deixar lá.

Ela em vez de me ajudar, me deixa mais frustrada, cada vez que ela faz isso, me faz sentir mais impotente, se eu pudesse pelo menos tocar minha cadeira de rodas, mas, nem isso eu posso fazer e a única pessoa que podia me ajudar, era minha mãe e ela literalmente não faz isso.

Continua...

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Conto 0015 O parto 2.0



Uma coisa que observei ao sair para a escola é que o filho de pessoas que não tem deficiência choram ao ir à escola, eu realmente não intendo isso, porque a escola pra mim é como se fosse a extensão de minha casa, lá eu brinco, pinto, conheço novos coleguinhas, realmente amo minha escola, principalmente por ela ser acessível!

Muitos anos se passaram, as brincadeiras passaram a ser matérias, fiquei muito triste porque muitos dos meus amiguinhos que tem deficiência intelectual não conseguiram seguir em frente por conta de duas limitações, as turmas que eram enormes ao longo dos anos tiveram de ser unidas pra formar turmas cada vez menores devido ao avanço das séries de ensino.

Uma das coisas que me transtornava era quando as pessoas se dirigiam a minha mãe, como se eu não pudesse responder, com perguntas tipo: Que lindo ele fardado, ele estuda?
Eu sempre respondia dizendo que além de estudar eu também falava e que me perguntassem as coisas que eu mesmo respondia!

Minha vida escolar foi ótima, até terminar o ensino fundamental, em minha cidade não havia escola com ensino médio para pessoas com deficiência, eu sempre fui um bom aluno, totalmente dedicado ao estudo, tirei as melhores notas de todo o colégio, tive atenção especial de todos no colégio por conta disso, eu me sentia muito especial.

Por não encontrar uma escola adaptada, meus pais decidiram me matricular em uma escola do ensino regular médio, quando as aulas começaram, meus tormentos também começaram, primeiro porque a escola não tinha nenhuma rampa, depois porque todos olharam pra mim, como se eu fosse um alienígena!

Nesse período foi quando comecei a sofrer o preconceito na pele, os alunos não conversavam comigo, pelo contrário, me chamavam de aleijadinho, sorriam de mim o tempo todo, fiquei muito triste nos primeiros meses de aula, isso se refletiu em minhas notas, que passaram das melhores para as piores da turma e uma das piores do próprio colégio.

Meus pais foram na direção, levaram minhas notas antigas, eles comentaram com a diretoria sobre o preconceito que eu estava vivendo, a falta de acessibilidade, todo o terrorismo que eu vivia foi exposto à direção da escola, não parou por ai, meu pai ficou tão revoltado que levou o caso à própria secretaria de educação do estado.

Nesse meio tempo um aluno veio falar comigo, Ricardo se mostrou totalmente diferente dos outros, ele disse que viu os alunos zoarem da minha cara e ficou muito irado com isso, conversamos um monte, contei pra ele como foi minha vida até entrar naquela escola, nos tornamos bons amigos e passávamos boa parte do tempo juntos.

Continua...