sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Conto 0005 A Lady versão 2.0

Estando em casa o tempo demorava a passar, antes minha agenda era sempre lotada de compromissos, agora eu era uma pessoa totalmente dependente, pra comer, escovar os dentes, pentear os cabelos, coisas que são tão simples, mas, que pro meu atual estado de tetraplegia, são totalmente difíceis, estava com saudade de minhas amigas, porque elas não apareciam?

Parece que Deus ouviu minhas preces, minha melhor amiga Francisca estava chegando em casa, minha mãe me avisou, quando ela entrou pela porta do quarto, com um arranjo de flores lindas, começou a chorar, me abraçou na cama, passando a mão em meu rosto, não conseguia parar de chorar, então depois de um tempo, ela falou:

- Francisca – Amiga todas nós queríamos te ver, mas, quando falávamos em você, ninguém tinha coragem de vir até aqui, nós só chorávamos e pensávamos como seria quando víssemos você, agora você já sabe, nós choraríamos, meu Deus, todos esperando você na formatura e você nada de chegar, quando liguei pro seu telefone, sua mãe atendeu e me disse o ocorrido, entrei em choque, travei, fiquei ali sem acreditar no que ela estava me contando, depois disso, a festa da formatura perdeu o sentido, fomos quase todos pro hospital onde você estava, passamos a noite lá.

- Maria – Mas que droga, quer dizer que eu estraguei a festa? Além de aleijada agora a estraga prazeres, no que eu me tornei?
- Francisca – Calma amiga desencana, acidentes acontecem todos os dias, simplesmente você caiu de uma escada e ficou em uma cadeira de rodas, isso é normal!
- Maria – Normal? Eu estou usando fraudas e tem essa sonda ridícula em minha genital, ligada aquele tubo asqueroso cheio de xixi, eu não consigo mover se quer meus braços e você diz que isso é normal Francisca?

- Francisca – Amiga eu andei fuçando na internet, procurando saber um pouco sobre seu quadro, descobri muita gente legal, eles são tetraplégicos e conseguem ter uma vida normal, trabalham, namoram...
- Maria – Quem vai querer uma mulher com esses cabelos de bruxa, essa frauda e a porra desse saco de xixi Francisca?
- Francisca – Entendo sua revolta, penso que se eu estivesse em seu lugar, estaria pensando a mesma coisa, veja o pessoal da internet falou de uma tal reabilitação, que você tem que fazer, pra aprender a se virar sozinha, tem um hospital muito bom, lá eles disseram que sua vida vai mudar!
- Maria – Nada de hospital, o que eu farei lá? A mesma coisa que faço aqui, NADA!
- Francisca – Calma Maria, não é assim que funciona, você tem que pensar no amanhã, em um tratamento pra tentar reverter seu caso!

- Maria – Eu não quero pensar nisso por enquanto, acabei de chegar do hospital e não quero votar pra ele de novo, agora quero um tempo só meu!
- Francisca – Certo, vamos mudar de assunto então, as meninas estão programando um dia pra todas nós virmos juntas, eu vim primeiro porque não aguentei de saudade amiga, eu queria te ver, não me importo se você é tetraplégica, cadeirante, seja o que for, nós somos amigas e é isso o que importa!

Quando Francisca me disse isso, comecei a chorar, era disso que eu precisava, de palavras amigas de conforto, ficamos ali horas e horas conversando, ela disse que quando as meninas viessem nós faríamos um dia de beleza, ela iam cortar meu cabelo, me depilar, praticamente fazer da minha casa um salão de beleza, confesso que gostei da ideia, ela saiu da minha casa tarde da noite, me atualizou de tudo o que tinha acontecido enquanto eu estava trancada em meu mundinho.

Certo dia ao acordar, eu vi uma cadeira de rodas do lado da minha cama, fiquei olhando pra ela, eu nunca tinha visto de perto uma cadeira de rodas, chamei pela mãe, pouco tempo depois ela apareceu com outra mulher em meu quarto, era uma fisioterapeuta, ela me disse que iríamos fazer fisioterapia todos os dias, para que meus membros não atrofiassem, a primeira coisa que ela quis fazer foi me colocar sentada na cadeira, eu estava a tanto tempo deitada que adorei a ideia de sentar.

Ela me colocou na cadeira de rodas de uma forma tão prática que minha mãe ficou assustada com o movimento que ela fez, ao me colocar na cadeira eu vi o mundo rodando e desmaiei...

Quando acordei estavam as duas ali me olhando, a fisioterapeuta disse que era normal, que quando se passa muito tempo deitado, ao sentar isso acontecia mesmo, disse que todo dia íamos fazer a mesma coisa, até meu organismo se adaptar novamente, eu enchi ela de perguntas de todos os tipos, ela me disse que eu ainda estava em uma fase chamada de choque medular, até o tempo certo, eu poderia ganhar movimentos.

Os dias se repetiam Márcia à fisioterapeuta todos os dias fazia movimentos em meus pés, pernas, braços e mãos, eu ficava muito triste porque não consegui sentir seu toque, os movimentos, apenas assistia aquela cena, quando consegui ficar sentada e não desmaiar, ela e meus pais me desceram da escada e me levaram até o jardim pra eu pegar um sol, depois de tanto tempo confinada em meu quarto, pude sentir o cheiro das rosas que minha mãe planta no jardim.

Eu nunca tinha parado pra observar o jardim, sempre passava por ele correndo, atrasada pra algum compromisso, ouvir o canto dos pássaros, Márcia tentou me convencer a ir para o tal hospital de reabilitação, que lá eu poderia ter ganhos e me desenvolver melhor, perguntei pra ela se eles iam me fazer andar e sentir de novo, ela disse que existe inúmeras probabilidades, mas, que eu teria de experimentar pra saber até onde eu conseguiria ir, estava quase aceitando aquela ideia.

Pedi pra minha mãe entrar na internet e procurar saber desse hospital, encontramos inúmeras recomendações, todos falavam que o hospital era tudo de bom, então pedi a meu pai que entrasse em contato com eles, pra saber como funcionava, ele me disse que eu teria de entrar em uma fila de espera, que poderia dar entrada pedindo minha internação, já que era pro meu bem, eu aceitei, pedi pra ele que entrasse com o processo de internação, que eu iria.

Continua...

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