segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Conto 0002 A Lady


Olá, meu nome é Maria, como me tornei cadeirante? Contarei a seguir...
Um belo dia estava me arrumando pra sair, era formatura de um grupo de amigos da faculdade, tomei meu banho, sequei os cabelos, comecei a me maquiar, o vestido era aquele longo clássico, vermelho, eu queria ir arrasando praquela formatura!  Coloquei meu salto e segui rumo a escada, minha casa era de dois andares, morava com meu pai, quando coloquei o primeiro pé no degrau, o salto quebrou, eu me vi rolando escada abaixo e de repente tudo apagou.

Quando acordei estava em uma sala branca, haviam tubos enfiados em mim, tentei mexer o pescoço e não consegui, parece que estava amarrado, tentei mexer as pernas, os braços e nada, não conseguia, sentia meu corpo em uma espécie de anestesia total, é muito difícil expressar em palavras o que é esse sentimento de impotência, com os tubos enfiados em meu pescoço eu não conseguia falar, gritar, eu queria me expressar, porém, não sabia como.

Passou algum tempo, não sei dizer quanto tempo foi aquele momento, só sei que foi um dos piores espaços de tempo em minha vida, em fim chegou uma enfermeira, ao entrar no quarto e me ver acordada, me disse pra ficar calma, que ela ia chamar o médico e tudo ficaria bem. Então entrou aquela multidão de pessoas no quarto, eu perguntei ao médico porque eu não conseguia sentir nada, o que estava acontecendo?

Ele pediu calma e disse as enfermeiras pra começar a tirar os tubos e fazer a assepsia, depois perguntei novamente, só que dessa vez eu consegui ouvir minha voz, rouca, meio falha, mas tinha conseguido dizer alguma coisa, ele me disse que caí da escada, rolei ela abaixo porque meu salto havia quebrado, isso eu lembrava, agora vem a parte ruim, ele disse que eu quebrei meu pescoço, que teria ficado tetraplégica e viveria a vida toda em uma cadeira de rodas.

Eu comecei a gritar, pedi que chamassem meus pais, que aquilo era mentira, eu não acreditava naquilo, o ar foi faltando, eu tentava respirar e não conseguia, tudo apagou de novo... Não sei quanto tempo passou, mas, acordei mais uma vez com aqueles malditos tubos enfiados em mim, eu pesava que aquilo fosse um pesadelo, mas, a realidade é que era forte demais e eu não queria aceitar aquilo, totalmente repugnante.

Mais uma vez a enfermeira entrou me viu e chamou os outros, o médico perguntou se eu estava mais calma, pisquei os olhos, era a única forma de me comunicar, então os tubos foram tirados novamente e a assepsia feita novamente, procurei manter a calma, perguntei a quanto tempo estava naquele lugar, a resposta me fez ficar nervosa mais uma vez, há 1 mês eu estava em coma, tive várias paradas cardíacas e respiratórias, o médico disse que se eu acreditasse em Deus, que tinha sido ele que me manteve viva.

Pouco tempo depois entraram meu pai e minha mãe, eles me abraçaram e finalmente eu senti algo, minha mãe tocou meu rosto e eu senti o calor de suas mãos, aquilo era tão confortante, pela primeira vez me senti segura ali, com meu pai e minha mãe, eles disseram que meus amigos e a nossa família fizeram uma enorme corrente de oração, minha mãe todos os dias lia os recados de minha rede social, centenas de amigos mandando mensagens de fé e esperança.

Finalmente soltaram meu pescoço de um tal tracionador,  disseram que era pra ver se meu pescoço voltava ao normal e minha medula descomprimia, eu não entendia nada do que eles estavam falando, eu era aluna do ultimo ano do curso de design de moda, eu entendia de moda e não de medicina essas coisas, perguntei ao médico se eu realmente ia passar a vida toda na cadeira de rodas, ele me pediu calma, com um tempo as respostas viriam.

Que tempo, já havia perdido 1 mês de minha preciosa vida em coma, e o médico me pedindo pra ter calma, dava nos nervos, mas, como eu não queria pagar de novo estava me esforçando pra me controlar, meus pais me trouxeram o notebook, mesmo sem eu conseguir mexer se quer os braços, eles me mostravam os recados da minha rede social e meu e-mail, me colocavam pra conversar com meus amigos por vídeo-chamada, pelo menos eu ocupava minha mente.

A cena era horrível, estava deitada em cima de um colchão de ar, eles diziam que era pra não me dar escara, feridas na pele por ficar deitada muito tempo, quando me colocaram pra sentar a primeira vez, vi o resto do meu corpo, tinha um cano de plástico chamado sonda, saia de minhas genitais e ia até um saco, onde ficava cheio de xixi, eu estava usando fraudas, meu Deus, logo eu que gostava de um bom conjunto de calcinha e sutiã, aquilo era o fim.

Pedi pra minha mãe entrar na internet e buscarmos informações sobre meu estado, o que lia era como um duelo entre forças, de um lado estórias de superação e recuperação, do outro histórias terríveis das piores possíveis, que fariam filme de terror ser história em quadrinhos, fiquei muito preocupada, pois realmente não sabia como seria meu futuro, eu simplesmente estava sem perspectivas, no passado toda uma vida, vivida intensamente, no futuro uma grande interrogação.

O tempo foi passando, a pior hora era a hora do banho, eu tomava banho na cama, com umas esponjas só removendo o que dava com um pouco de sabão e água, meus cabelos que eram lindos, todos bem cuidados, estavam parecendo uma arapuca armada, eu me sentia uma xexelenta horrível, no que eu me tornara, um farrapo humano, eu tinha tantos planos em minha vida, menos esse, de me tornar quem eu me tornei.

Pensava comigo mesmo, porque eu? Porque isso aconteceu comigo? O que eu fiz pra merecer isso? E infelizmente não encontrava resposta, os dias foram passando e aquilo tudo foi se transformando em uma masmorra pra mim, minha pele agora era de uma cor branca reluzente, a luz do sol que tomava em abundancia, agora não tocava minha pele como tocara no passado, quando íamos para a praia, será que um dia eu irei a praia novamente? E como irei entrar no mar com essa fralda ridícula, quanto mais penso nisso mais tudo me transtorna.

Finalmente chegou o dia da alforria, o médico me deu alta e em fim pude ir pra minha casa, já estava há dois meses no hospital, tive que ir pra casa de ambulância por recomendação médica, meus pais já haviam montado um hospital dentro da minha casa, eu iludida pensando que ia finalmente dormir em minha cama, me deparo com uma cama de hospital, o pior não foi isso, os quartos da casa são no andar de cima, tiveram de me subir pela mesma escada que caí, eu me controlei pra não chorar, mas, ao entrar em meu quarto, não segurei a emoção, chorei bastante.

Fiquei ali, olhando detalhadamente meu quarto, lembranças vindo em minha mente, pedi aos meus pais pra ficar um momento ali sozinha, lembrando de tudo o que já vivi, mil perguntas em minha mente e como o médico disse: Só o tempo lhe trará as respostas. Espero que elas sejam boas...
Continua...

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