terça-feira, 5 de março de 2013

Conto 0007 O ativista terrorista


Eu tenho 5 anos de lesão medular pós-traumática, eu mesmo provoquei meu acidente de carro, tomei umas e outras e acordei na UTI depois de passar um mês entre a vida e a morte. Após cinco anos e um intenso processo de reabilitação, cheguei no ponto de tolerância zero, a partir de hoje jamais deixarei alguém violentar meu direito!
Ao chegar no mercado, que possui três lindas vagas de carro exclusivas para pessoas com deficiência, notei que haviam 3 carros parados, após uma rápida conferida, vi que nenhum deles tinha a credencial de estacionamento para pessoas com deficiência, a ira e a raiva tomaram conta de mim e eu tomei uma decisão radical, a de estacionar  o carro atrás do carro deles, trancando os três, de modo que eles não conseguiriam sair.

Pedi ao funcionário do mercado, que me trouxesse a cadeira a motor com uma cesta que o mercado possui, ele trouxe e perguntou se eu deixaria o carro ali mesmo, eu disse que deixaria, queria que os donos do carro soubessem como é bom querer estacionar o carro e pessoas estarem usando sua vaga, eles só sairiam quando eu voltasse e eu estava pensando em demorar, muito.

Entrei no mercado como de costume e comecei a fazer minhas compras, passaram-se alguns minutos e o aviso começou: Atenção senhor motorista do carro tal, placa tal, favor comparecer ao estacionamento! Era o meu carro, o mais cômico disso, é que quando eles estacionaram em minha vaga, eu não podia me comunicar com pessoal do super-mercado, pra que eles saíssem da minha vaga e estacionasse em outra, mas, eles poderiam fazer isso comigo, então que esperem!

Este dia realmente não era meu dia, a fila pra pegar frios estava enorme, para os meros mortais, eu como sou pessoa com deficiência tenho direito à prioridade, então passei na frente de todos e pedi 300 gramas de presunto e 300 gramas de queijo, nisso uma senhora que estava na fila se revoltou e soltou o verbo comigo:

-Senhora- Escute aqui cidadão, eu estava a mais de meia hora na fila e o senhor entra na minha frente assim, na cara de pau e vai logo pedindo as coisas, você acha que isso está certo?

-Eu- Minha senhora claro que está certo, existe a lei de prioridade pra isso, a senhora sabia que em primeiro lugar, a senhora está sendo preconceituosa comigo e isso já é passivo de processo e eu tenho esta longa fila de testemunhas, segundo que se eu lhe de voz de prisão e chamar a polícia a senhora vais sair daqui algemada, é isso que a senhora quer?

Ela simplesmente saiu da fila irada da vida, ora mais eu tenho o direito de ter prioridade de atendimento, mas, nem todas as pessoas respeitam isso, no passado eu ficava irado, mas, calado, porém como disse à vocês desde o começo, eu jamais vou tolerar qualquer atrocidade dessas, de hoje em diante é com avisos verbais e processos judiciais, terminei minhas compras e segui pro caixa.

Passado uma hora e poucos eu já estava pagando as compras no caixa quando o operador mais uma vez fez aquele chamado, que nesse momento já era frenético: Atenção senhor proprietário do carro tal, placa tal, seu carro será rebocado do estacionamento em alguns minutos! Pensei comigo, agora eu vou, quero ver o circo pegar fogo lá fora.

Quando cheguei ao estacionamento estava aquela confusão, bombeiros, policia, reboque... Eu me dirigi ao carro como se nada tivesse acontecido, abri o porta malas e comecei a descarregar as compras que estavam na cesta da cadeira a motor e nesse minuto o mais afobado deles começou a falar:

-Afobado- Escute aqui, o senhor é um irresponsável, eu estou aqui há mais de uma hora esperando a boa vontade do senhor em vim tirar seu carro daqui!

Interrompi-o em seu discurso com a seguinte frase:

-Eu- Primeiro muito prazer, meu nome é Raimundo! Segundo eu esperei o senhor aparecer para tirar seu carro da vaga que é exclusiva de pessoas com deficiência, jamais seu carro poderia estar nela, segundo se meu carro for autuado e rebocado o do senhor também será, visto que a primeira “irresponsabilidade” neste caso,  foi a sua de ocupar uma vaga que por direito só pode ser minha, agora dá licença que falarei com a autoridade aqui, pra saber quem está errado!

-Afobado- Olha aqui seu alejadinho fdp...
Foi interrompido pelo policial que colocou uma mão em seu peito e a outra na arma que estava em sua cintura, falando em seguida:

-Policial- Afaste-se cidadão, o senhor já está passando dos limites, ele está certo o errado aqui é o senhor e se insistir principalmente com essas agressões verbais, além de te multar, reboco seu carro e o senhor sai daqui algemado na viatura, o senhor entendeu a informação?

-Afobado- Mas, mas...
-Policial- Senhor lhe perguntarei outra vez, o senhor entendeu o que eu lhe disse?
-Afobado- Sim senhor!
-Policial- Ótimo! Quero o documento dos veículos e as habilitações dos senhores!

Eu comecei a colocar as compras no bagageiro do carro, quando terminei me virei para o policial e perguntei se ele iria multar meu carro, ele informou que não e pediu que eu saísse do local, entrei no carro, liguei e comecei a manobrar pra sair do estacionamento, sai do estacionamento do mercado e voltei pra casa, refletindo sobre tudo o que aconteceu e tomei a decisão, que de hoje em diante jamais deixaria quem quer que seja, violentar meus direitos, resolvi comprar a briga pelo direito das pessoas com deficiência, vocês ainda lerão muitas histórias minhas...

Continua...

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